Título: Renan volta e descarta nova licença
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2007, Nacional, p. A4
Depois de se ausentar do Senado, peemedebista reassume mandato para tentar evitar cassação
Pressionado por quatro processos por quebra de decoro no Conselho de Ética, Renan Calheiros (PMDB-AL) voltou ontem ao Senado pela primeira vez desde que se licenciou da presidência - por 45 dias -, em 11 de outubro. O senador, que estava em licença médica de dez dias do mandato, decidiu reassumir ¿com discrição¿, não mais com a missão de voltar ao cargo principal da Casa, mas para tentar evitar a cassação. Renan descartou um novo pedido de afastamento. ¿Se eu estou trabalhando, como eu vou renovar a licença?¿, questionou.
Veja a cronologia do caso Renan
Embora setores do governo torcessem para que ele renovasse a licença médica por mais dez dias, para evitar qualquer turbulência política durante as negociações para prorrogar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), senadores de seu grupo concordam que ele deveria voltar o quanto antes. Para um amigo do presidente licenciado, estava passando da hora de Renan entrar no comando da operação-resgate de seu mandato.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), foi o primeiro a visitá-lo no gabinete parlamentar. ¿Vim dar um abraço e pedir o voto dele para a CPMF. Eu preciso de Renan no Senado¿, disse.
Indagado sobre o voto, Jucá contou que o próprio Renan fez questão de frisar que faz parte da base aliada. Em conversas reservadas, o presidente licenciado tem deixado clara sua preocupação em não criar qualquer dificuldade ao governo neste momento. Segundo um peemedebista, Renan disse que não poderia pagar este preço.
A chegada de Renan ao gabinete surpreendeu até os assessores mais próximos, que o aguardavam apenas hoje. O senador, no entanto, fez questão de reassumir o mandato para que pudesse ¿tomar o pulso¿ do plenário e se certificar dos votos com os quais poderá contar para se livrar da cassação.
Um senador de seu grupo disse que Renan aproveitou os dez dias de licença para intensificar os contatos telefônicos com parlamentares da base aliada e da oposição.
O relatório do primeiro dos três processos que tramitam contra ele no Conselho de Ética só será apresentado na próxima semana pelo relator Jefferson Péres (PDT-AM). Ele investiga a denúncia de que Renan teria usado laranjas na compra de um jornal e de duas emissoras de rádio em Alagoas.
A quem o questionou sobre seu retorno, Renan explicou apenas que havia concluído os últimos exames médicos na quinta-feira. Contou que fez uma prova de esforço e saiu-se muito bem. Como os médicos não fizeram nenhuma restrição a que voltasse ao trabalho, disse, não havia por que renovar a licença.