Título: Chuva alivia abastecimento de gás
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2007, Economia, p. B4

Com melhora nos reservatórios das hidrelétricas, preço da eletricidade cai 5,5% e exige menos gás para térmicas

As chuvas que vêm caindo no Brasil devem encurtar a crise de abastecimento de gás natural iniciada na semana passada. Com o fim da estiagem, o preço da energia no mercado atacadista já caiu 5,5% esta semana, para R$ 224,10 por megawatt/hora (MWh) consumido por grandes clientes.

Entenda a crise do gás

Esse valor é usado de referência no despacho das usinas térmicas e, quanto menor o preço, menor a necessidade de produção de energia a gás. No domingo, a Petrobrás bateu o recorde de produção de energia, com um total de 2,9 mil megawatts (MW) em suas usinas térmicas.

A estatal informou que o recorde foi possível graças ao menor consumo de gás natural por clientes industriais durante o fim de semana, o que garantiu maiores volumes do combustível para o setor elétrico.

Além disso, a empresa conseguiu cassar liminar que a obrigava a fornecer 1,3 milhão de metros cúbicos por dia à térmica William Arjona, de Mato Grosso do Sul. Segundo a estatal, a usina não tem contrato para receber gás e pode produzir a óleo diesel. Mas pediu, na Justiça, o direito de ter o combustível.

¿Para cumprir a liminar, a Petrobrás foi obrigada a reduzir o volume de gás natural fornecido às distribuidoras Comgás (São Paulo), CEG e CEG-RIO (ambas do Rio), no limite determinado nos contratos¿, informou, em nota, a companhia.

Na última terça-feira, indústrias e postos de gás natural veicular (GNV) do Rio ficaram sem gás por causa do desvio de combustível para as térmicas. A situação foi normalizada na quarta-feira, por força de liminar obtida pelo governo do Estado determinando o restabelecimento das entregas. A Petrobrás anunciou que recorreria da decisão, mas não havia apresentado recurso até ontem.

Para bater o recorde de ontem, a Petrobrás enviou 13,2 milhões de metros cúbicos de gás às térmicas. Especialistas avaliam que a necessidade de geração térmica deve cair muito na próxima semana, em razão da chegada do período chuvoso.

No domingo, em virtude da produção das térmicas, os reservatórios das hidrelétricas das Regiões Sudeste e Centro-Oeste subiram 0,1 ponto porcentual em relação ao dia anterior, atingindo o nível de 51,3% e revertendo um movimento de queda que durava meses.

O aumento no nível dos reservatórios e a previsão de chuvas contribuem para reduzir o custo marginal de operação do setor (CMO), valor que indica a água armazenada nas hidrelétricas. Com a redução do CMO, a tendência é que a energia hídrica seja cada vez mais acionada, liberando gás para outros usos.

Segundo um especialista, o preço menor desta semana já libera a Petrobrás da obrigatoriedade de produzir pelo menos 600 MW, o equivalente a um consumo de 2,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia. O volume é maior do que os 2,3 milhões de metros cúbicos entregues às distribuidoras fluminenses por força de liminar judicial. Nessa época do ano, com os reservatórios baixos, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é obrigado a acionar as térmicas para poupar, para os anos seguintes, água nos reservatórios das hidrelétricas.