Título: Laranjas foram sócios da Mude
Autor: Godoy, Marcelo., Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2007, Economia, p. B10

Eles dominavam offshore no Panamá e Ilhas Virgens

A Mude Comércio e Serviços Ltda, uma das maiores distribuidoras da Cisco Systems na América Latina, foi controlada por laranjas. Essa é a conclusão da apuração da Receita e da Polícia Federal. A empresa, com capital declarado de R$ 13 milhões , teve entre seus sócios as offshore Fulfill Holding Ltda, uma exportadora com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, e a Nordstrom Trading, empresa com sede no Panamá.

Ao apurar quem estaria por trás das offshore, os investigadores descobriram que a Fulfill tinha como sócios Andrés Maximino Sanches e de John Benjamim Foster. Os dois são apontados como ¿panamenhos, vinculados ao escritório de advocacia Alcogal (Alemán, Cordero, Galindo & Lee) e sócios interpostos de diversas offshore¿. Em nome deles também estava a Nordstrom, só que nesta os dois contavam com uma sócia: Myrna de Navarro, outra laranja. O endereço da Nordstrom seria o mesmo do escritório Alcogal.

A Mude passou ainda pelas mãos de Marcílio Palhares Lemos, gerente financeiro da Mude, e do advogado José Roberto Pernomian Rodrigues, diretor de operações da distribuidora. Hoje a empresa está em nome de Fernando Machado Grecco, diretor de marketing da empresa, e de Hélio Benetti Pedreira - ambos presos pela PF.

ESCUTAS

As principais suspeitas investigadas pela PF e pelo Ministério Público Federal são três. A Cisco teria importado equipamentos como se fossem softwares. Com isso, a empresa aproveitava a isenção para softwares, deixando de recolher imposto de importação. Ela trazia ainda ao Brasil equipamentos prontos, mas declarava serem peças, aproveitando-se da isenção fiscal na Bahia para indústrias de informática instaladas no Estado. Por fim, a empresa é suspeita de simular o pagamento de direitos autorais de softwares para justificar o envio de divisas às offshore no exterior.

Interceptações telefônicas da PF mostram executivos da Cisco do Brasil falando sobre o esquema dos softwares. Eles usariam a palavra ¿quebra¿ para se referir à fraude. Um deles demonstra preocupação, dizendo: ¿Estão quebrando na cara dura, tem de tomar mais cuidado¿. Para os investigadores, esse é um indício de que o esquema era de conhecimento da Cisco. A empresa nega e diz não ser responsável pelos atos da Mude.