Título: Cristina já enfrenta polêmica sobre inflação
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2007, Economia, p. B11
Índice de outubro será divulgado hoje, e tudo indica que disparidade entre dados oficiais e números reais será uma herança do governo do marido
A presidente eleita Cristina Fernández de Kirchner ainda não tomou posse mas já está envolvida na polêmica sobre o índice oficial da inflação, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Hoje o órgão - que desde janeiro está sob intervenção do governo de seu marido, o presidente Néstor Kirchner - anunciará o índice de outubro.
Dados preliminares do Indec indicam que a inflação do mês passado seria de 0,8%. Dessa forma, a inflação oficial acumulada desde o início do ano seria de 6,7%. Mas economistas independentes, consultorias financeiras e empresários sustentam que a inflação ¿real¿ é superior a 1,5%, podendo chegar a 1,6%. Com esse cálculo, o cumulado ¿real¿ seria de mais de 16%. A escalada da inflação e o descrédito no cálculo oficial são algumas das incômodas heranças que Cristina Kirchner receberá do marido.
Após a eleição, no dia 28 de outubro, a expectativa era que a manipulação do governo fosse mais amena, iniciando uma nova fase com a vitória da primeira-dama. No entanto, os analistas afirmam que tudo indica que a transição de Kirchner para o governo de sua esposa manteria a estratégia de anunciar índices inflacionários oficiais baixos.
Essa estratégia, utilizada inicialmente com fins eleitorais, está tendo efeitos colaterais negativos, entre eles o de provocar elevada desconfiança dos mercados. Nesse caso específico, 42% dos títulos reestruturados da dívida argentina perdem credibilidade, já que são corrigidos pela inflação.
Funcionários do Indec fizeram ontem um protesto contra a intervenção. Nos últimos nove dias, desde as eleições presidenciais, o governo já demitiu 20 funcionários que se recusaram publicamente a aceitar a manipulação dos índices.
Em plena transição, o acordo com os supermercados para o congelamento de preços de 400 produtos até 10 dezembro - data da posse de Cristina - não está sendo cumprido. Na contramão do acordo, que incluía redução de 5% dos preços, houve aumentos de até 12%.
A presidente eleita também vai enfrentar a pressão dos sindicatos, que querem aumentos salariais de 30% em 2008, já que prevêem uma inflação superior a 20%. Mas, o governo só aceita aumentos de 12% a 15%, pois considera que a inflação não passará de 10% em 2008.
Outra batalha será com as empresas privatizadas, que esperam o reajuste de preços dos serviços públicos, congelados desde 2002.