Título: Dólar baixo ameaça as exportações, alerta CNI
Autor: Lu Aiko Otta; Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2007, Economia, p. B7

Pequenas e médias indústrias estão pessimistas com as vendas externas

O longo período de dólar barato ameaça de forma mais concreta o desempenho exportador do Brasil, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Uma pesquisa feita com 1.502 empresas mostrou que a maioria quer crescer em 2008 e atribui essa possibilidade de crescimento às vendas no mercado interno brasileiro. É grande o pessimismo quanto às exportações, principalmente entre pequenas e médias indústrias, que enfrentam maior dificuldade para se adaptar a um cenário de valorização do real.

O dólar na casa de R$ 1,70 preocupa os empresários e redobra as preocupações do governo quanto ao desempenho das exportações e à entrada de produtos importados, revelou ao Estado um integrante da equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O tema está em estudo no Ministério da Fazenda, mas até o momento não há consenso sobre o que fazer. O diagnóstico sobre a queda do dólar tem como um dos principais fatores o significativo ingresso de capitais estrangeiros no País.

Apesar da valorização do real, os dados da balança comercial divulgados na semana passada indicam uma boa performance do comércio exterior brasileiro. No entanto, as importações têm crescido muito mais que as exportações nos últimos meses. Por enquanto, os preços favoráveis para produtos como as commodities têm sustentando o aumento das exportações.

Essa situação, no entanto, não é uma realidade para todo o setor exportador. 'Muitas empresas estão jogando a toalha', disse o economista Paulo Mol, da CNI. Ele observa que a rentabilidade das exportações caiu fortemente nos últimos três anos. As empresas, umas com maior sucesso outras com menos, conseguiram manter-se no mercado externo porque se tornaram mais eficientes. 'O problema é que o ajuste não pode se dar só em cima das empresas.' Esse processo, avaliou, pode estar chegando a seu limite.

Mol elaborou um estudo a partir do qual mostra por que alguns setores sofrem mais com o dólar barato do que outros. As empresas que utilizam muita mão-de-obra, as que dependem de matérias-primas brasileiras e as que utilizam muita energia elétrica são as maiores prejudicadas. Também sofrem mais as indústrias de menor porte, que têm pouco fôlego para adaptações. Já as empresas que podem importar sua matéria-prima se beneficiam do dólar barato, assim como as que transferiram sua produção para o exterior.

O que os setores mais afetados têm em comum é que a parte mais pesada de seus custos de produção é paga em reais. Convertido em dólares, o valor dessas despesas está subindo. Por exemplo: um empregado que custe R$ 500 por mês custava US$ 250 com o dólar a R$ 2 e agora custa perto de US$ 286 com o dólar a R$ 1,75.

Dificilmente a empresa exportadora consegue repassar o custo extra para os preços cobrados no exterior. O resultado é que o lucro é cada vez menor e a capacidade de oferecer produtos baratos no mercado internacional diminui. Segundo o levantamento feito por Mol, a média salarial brasileira em dólares subiu perto de 100% nos últimos cinco anos. Na indústria, o custo em dólares com salários e encargos aumentou 70%.

Outro item importante no custo das empresas, a energia elétrica, passou de US$ 47 por megawatt por hora em 2004 para US$ 95 em 2006. Ou seja, o custo em dólares dobrou. 'A energia elétrica, que no passado foi um fator de vantagem competitiva, agora é uma desvantagem', afirmou Fernando Pimentel, superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Segundo especialistas, a tendência é o custo da energia elétrica subir, pois os recentes projetos licitados são usinas térmicas a óleo, onde o megawatt custa o triplo do produzido nas hidrelétricas.

AGENDA

Na falta de medidas mirabolantes para lidar com a queda do dólar, a esperança do governo em minorar os estragos sobre as exportações reside em três frentes: a continuidade do processo de redução dos juros, a reforma tributária e o combate à burocracia. O diagnóstico coincide em parte com o do economista Paulo Mol. 'O câmbio não é 'o' problema do setor exportador; é 'um' problema', disse.

Medidas em análise no Congresso Nacional e outras que dependem da iniciativa do governo poderiam dar fôlego aos exportadores. 'A carga tributária, a burocracia, os marcos regulatórios não muito claros, a insegurança jurídica são problemas que não foram atacados.'

Já a redução dos juros ajudaria a refrear o ingresso de moeda estrangeira que vem ao País em busca dos ganhos com os juros elevados, de 11,25% ao ano. Indiretamente, o juro menor ajudaria o dólar a subir em comparação com o real.

A secretária da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Lytha Spíndola, destaca que os números do comércio exterior são positivos, mas é 'também momento para enfrentar desafios', como os gargalos às exportações. Foram criados grupos de trabalho na Camex, com participação de outros ministérios, para buscar soluções.

Um dos grupos estuda a adoção de um sistema de isenção de importações de equipamentos para o setor ferroviário, similar ao que existe para o sistema portuário, o Regime Tributário para Incentivo à Modernização e Ampliação da Estrutura Portuária (Reporto). 'Não dá para fazer tudo de uma vez. Tem de estabelecer prioridades', afirma a secretária.