Título: Planalto mapeia perdas de Estados para forçar tucanos a apoiar CPMF
Autor: Fernandes, Adriana., Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2007, Nacional, p. A4

Fazenda indica que São Paulo recebeu entre janeiro e setembro R$ 3,77 bi dessa fonte, que não teria mais em 2008

Depois do recuo do PSDB, o governo deflagrou ontem uma ofensiva para pressionar os governadores e buscar no Senado os votos que faltam para a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mandou distribuir entre os senadores uma planilha com os recursos do imposto do cheque repassados indiretamente aos Estados, entre janeiro e setembro. Mais do que um inventário, ele detalhou a ameaça que o Planalto faz aos governadores, caso a CPMF não seja mantida.

Pelos cálculos, São Paulo recebeu nesse período R$ 3,77 bilhões dessa fonte, indicando rombo similar em 2008, se não houver o tributo. A planilha mostra que Minas ganhou R$ 1,61 bilhão da CPMF e o Rio Grande Sul, outro R$ 1,05 bilhão. Alagoas recebeu R$ 213 milhões. Os governadores desses quatro Estados são do PSDB, cuja bancada no Senado decidiu votar em bloco contra a manutenção do tributo, após rejeitar proposta do governo.

O dinheiro arrecadado com a CPMF não é repassado diretamente, mas aplicado em despesas e ações do governo federal nos Estados. Nesse jogo de pressão, a planilha com as eventuais perdas foi distribuída para tentar convencer os senadores de que a ameaça é real.

Mantega decidiu atacar também ¿no varejo¿. A estratégia é reforçar os contatos individuais com os senadores, com o apoio dos governadores do PSDB, e buscar uma coesão forte da base aliada, sobretudo com a bancada do PMDB (leia na página A5). O líder peemedebista, Valdir Raupp (RO), e o senador Pedro Simon (PMDB-RS) participaram ontem de reuniões no Ministério da Fazenda. Também esteve presente Aod Cunha de Moraes, secretário de Fazenda do Rio Grande do Sul - Estado governado pela tucana Yeda Crusius, que está pedindo ajuda da União para enfrentar graves problemas financeiros.

O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) foi convidado ontem para assistir a uma ¿aula¿ sobre CPMF, quando lhe foi apresentada a planilha de perdas dos Estados. ¿Não tem como não aprovar a CPMF. O senador que representa um Estado e não aprovar a CPMF é simplesmente um irresponsável¿, disse o parlamentar. ¿Partido não tem voto, quem tem voto é o senador. É o senador que vai ter de dar explicação no local onde tem voto.¿

¿Você acha que o Aécio Neves, com o choque de gestão, vai perder R$ 1,6 bilhão?¿, argumentou Salgado. O parlamentar mineiro disse não acreditar que os dois outros senadores de seu Estado - Eduardo Azeredo, do PSDB, e Eliseu Resende, do DEM - votarão contra a CPMF. ¿Eles não vão deixar o Estado sem esse dinheiro¿, disse.

O clima na equipe de Mantega, ontem, ainda era de frustração com a decisão do PSDB, mesmo depois de o governo ter cedido e ampliado o abatimento da CPMF para os trabalhadores com renda de até R$ 4.340. A avaliação é de que as negociações ficaram mais difíceis, mas ainda há espaço para o diálogo, principalmente com a ajuda dos governadores favoráveis à prorrogação da CPMF.