Título: PMDB dá apoio a imposto depois de negociar no varejo
Autor: Scinocca, Ana Paula., Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2007, Nacional, p. A5

Partido defende a redução da alíquota da CPMF, mas na prática está de olho em cargos e emendas

A bancada do PMDB no Senado decidiu ontem ¿fechar questão¿ em favor da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Um dia depois de os senadores do PSDB terem rejeitado a proposta do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para esticar a validade da CPMF até 2011, o dividido PMDB deu sinais de boa vontade, numa demonstração de que o governo já começou a negociar no varejo com a maior bancada do Senado, composta por 20 integrantes.

Nem tudo, porém, foi paz e amor: na tentativa de mostrar que pode afiar suas garras mais adiante, caso suas demandas não sejam atendidas, o PMDB decidiu reivindicar o corte da alíquota do tributo, hoje em 0,38%.¿Vamos votar pela prorrogação. Mas é preciso haver redução do imposto¿, avisou o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), à saída da reunião da bancada. No jargão político, o fechamento de questão obriga os parlamentares a seguir a orientação da legenda, caso não queiram sofrer punições.

O PMDB prega no discurso oficial uma tesourada na alíquota da CPMF, que cairia para 0,36% a partir de 2008. Na prática, porém, o partido está mesmo de olho em cargos e na liberação de emendas ao Orçamento. O alvo da cobiça é o Ministério das Minas e Energia e o pacote de estatais do setor elétrico. O partido está irritado com a demora na recondução do ministro Silas Rondeau, prometida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Rondeau foi afastado em maio, no auge da Operação Navalha, da Polícia Federal. Além disso, peemedebistas têm demandas paroquiais nos Estados.

Na tentativa de conter as insatisfações, o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, tem chamado os parlamentares ao Planalto para um tête-à-tête.

Apesar da decisão do PMDB pró-CPMF, dois senadores prometem desobedecer a ordem do partido: Mão Santa (PI) e Jarbas Vasconcelos (PE). Jarbas nem foi à reunião de ontem. Mão Santa deixou o encontro batendo a porta, após um bate-boca com a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (MA).

Munida de planilhas com números e gráficos sobre as vantagens da aprovação da CPMF, Roseana dizia que o Maranhão pagou R$ 19 milhões de CPMF nos últimos dois anos e recebeu R$ 800 milhões quando foi interrompida por Mão Santa. ¿Isso é uma demagogia, mentira, falsidade!¿, protestou. ¿Se for necessário, saio do PMDB, mas não voto nessa palhaçada. É uma mutreta!¿

O presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador Pedro Simon (RS), compareceram ao encontro da bancada, mas se abstiveram. ¿Preferi me abster na reunião do partido, mas no dia vou votar a favor da prorrogação da CPMF¿, afirmou Renan. ¿Eu me abstive senão sairia manchete de jornal dizendo: `Renan influencia bancada¿.¿

O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) defendeu a substituição, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), dos que votarem contra a prorrogação da CPMF, como é o caso de Jarbas. ¿A punição é na CCJ. Quem não seguir a recomendação, tem de sair¿, afirmou. Raupp, no entanto, amenizou a provável crise: ¿Isso não vai ocorrer.¿