Título: Protesto anti-Chávez deixa 8 feridos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2007, Internacional, p. A20

Tiroteios marcam manifestação contra reforma chavista; reitor de universidade desmente informação sobre morte

Caracas - Oito estudantes ficaram feridos após serem atacados por um grupo de homens armados não identificados no campus da Universidade Central da Venezuela (UCV), em Caracas, de acordo com o diretor nacional de Proteção Civil, general Antonio Rivero. Uma informação de que haveria um morto, divulgada logo após o incidente, foi desmentida por autoridades da universidade.

Os estudantes voltavam de uma manifestação contra o projeto de reforma constitucional proposto pelo presidente Hugo Chávez, que reuniu 80 mil pessoas no centro da capital. De acordo com relatos de testemunhas à TV Globovisión, os agressores, supostamente integrantes de grupos chavistas, entraram no campus usando máscaras e tomaram a faculdade de Serviço Social, onde houve confrontos e foram disparados alguns tiros. Em seguida, a Guarda Nacional cercou o campus.

Já o ministro do Interior, Pedro Carreño, acusou manifestantes que voltavam da marcha de atacar estudantes pró-governo reunidos pacificamente. Ele disse que cem pessoas tiveram de ser retiradas da área ¿porque estavam para ser linchadas por estudantes voltando da marcha¿.

O professor de Direito Jorge Pabón afirmou ter visto homens queimarem um ônibus nas proximidades da universidade. Supostos chavistas teriam dado tiros para o alto após o início do conflito no campus. Segundo Ricardo Sánchez, um dos líderes dos movimentos estudantis que organizaram a manifestação antichavista, pelo menos dois dos feridos foram baleados. Todos foram levados ao Hospital Universitário.

O reitor da UCV, Eleazar Narváez, disse que se comunicou com o vice-presidente venezuelano, Jorge Rodríguez, para avisá-lo de que o ingresso das forças de segurança no campus não foi autorizado. Segundo o ministro de Educação Superior, Luis Acuña, o governo estaria disposto a ajudar na solução do conflito se as autoridades universitárias solicitassem.

À tarde, os universitários marcharam até o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), onde pediram que o referendo sobre a reforma, marcado para 2 de dezembro, seja adiado. O protesto foi organizado depois que Chávez ameaçou proibir as manifestações da oposição, durante seu programa Alô Presidente, no domingo. O argumento usado pelo presidente é que os estudantes e grupos críticos ao seu governo só querem promover confrontos nas ruas e desestabilizar o país. A autorização para a marcha de ontem foi obtida após muita negociação com o governo. Cerca de 2.500 policiais foram destacados para fazer o controle dos universitários.

¿Não permitam que a Venezuela vá por um caminho que ninguém quer, e que se continue a cometer injustiças¿, disse o líder estudantil Freddy Guevara, dirigindo-se aos membros do STJ. Representantes dos universitários foram recebidos pela presidente do tribunal, Luisa Estella Morales. Eles alegaram que o referendo deveria ser suspenso porque a maioria da população ignora o conteúdo e o alcance da reforma constitucional.

O projeto, apresentado por Chávez em agosto e aprovado pela Assembléia Nacional na semana passada, prevê mudanças em 69 dos 350 artigos da Constituição de 1999. Entre as mudanças mais polêmicas estão a extensão do mandato presidencial de 6 para 7 anos, o fim da autonomia do Banco Central e as reeleições indefinidas - que permitiriam a Chávez perpetuar-se no poder.

NEGOCIAÇÕES COM AS FARC

Chávez confirmou ontem que se reuniu na noite de terça-feira com um representante do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (Farc), mas não deu detalhes. O presidente está tentando mediar um acordo humanitário entre as Farc e o governo colombiano que inclua a entrega de 45 reféns políticos da guerrilha e de 400 rebeldes presos. ¿Eu me reuni durante várias horas com o enviado de Manuel Marulanda (fundador das Farc). Foi a primeira reunião, mas haverá outras. Estamos tentando encontrar uma solução, mas não é fácil¿, disse Chávez.