Título: Só 18,3% dos desempregados têm qualificação, diz Ipea
Autor: Sobral, Isabel., Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2007, Economia, p. B12

Falta de mão-de-obra experiente afeta principalmente indústria e comércio

Um estudo sobre o mercado de trabalho brasileiro este ano divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confirmou o que as empresas privadas vivem na prática há algum tempo: falta mão-de-obra qualificada e experiente para vários setores da economia. O levantamento, feito com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), projeta que até o fim do ano o Brasil terá 7,5 milhões de trabalhadores sem qualificação ou experiência profissional procurando emprego com carteira assinada num universo de 9,1 milhões de pessoas em busca de vaga no mercado formal.

Assim, apenas 1,67 milhão de pessoas, ou 18,3% do total, têm a qualificação adequada e experiência profissional para conquistar um espaço. O presidente do Ipea, Márcio Pochmann, disse que as análises são preliminares mas confirmam um paradoxo. ¿Sobram vagas em alguns setores enquanto há muita gente desempregada¿, afirmou. ¿Estamos diante de um fenômeno novo, que é a ausência de trabalhador qualificado para algumas atividades econômicas, o que não acontecia há mais de duas décadas.¿

Para Pochmann, é preciso mudar a estrutura de formação e treinamento dos trabalhadores, além de ajustar o sistema de intermediação de mão-de-obra, os chamados postos do Sistema Nacional de Emprego (Sine).

Ele condenou a atitude de empresas que importam mão-de-obra de outros países para suprir a carência de qualificação. ¿Importar pessoal enquanto há tantos desempregados é uma temeridade, o que se deve é investir em políticas públicas que valorizem o ensino técnico, profissional e priorizem o treinamento para encaixar o contingente de pessoas disponíveis¿, defendeu.

MAPA GEOPOLÍTICO

O Sudeste e o Nordeste do País são as regiões onde mais sobram trabalhadores qualificados. No Norte, Sul e Centro-Oeste o Ipea estima que falta mão-de-obra qualificada e experiente. Pochmann destacou que isso reflete a mudança no fluxo migratório dos trabalhadores já que muitas empresas estão deslocando do eixo Rio-São Paulo suas unidades de produção.

Os setores econômicos mais prejudicados com a falta de mão-de-obra qualificada e experiente, segundo o Ipea, são a indústria e o comércio. Três segmentos da indústria de transformação têm, juntos, mais de 70 mil vagas à espera de profissionais - química e petroquímica, produtos de transporte e produtos mecânicos.

Por outro lado, o estudo apontou que a construção civil e a agropecuária são os ramos que mais têm sobra de mão-de-obra qualificada com experiência. Isso quer dizer que os trabalhadores qualificados e com experiência desses setores são os que mais sofrem com o desemprego. Juntos, esses dois ramos têm mais de 152 mil desempregados com qualificação.