Título: Investimento é bem-vindo, mas deve respeitar as leis bolivianas, diz Evo
Autor: Tereza, Irany; Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2007, Economia, p. B1

Presidente da Bolívia admite que o país precisa de 'milhões e milhões', mas mantém retórica da soberania

O presidente boliviano, Evo Morales, aproveitou a recente exposição da deficiência brasileira na oferta de gás para retomar o tom incisivo de seu discurso em relação aos investimentos na área de energia. 'Se quiser investir, bem-vindo', disse, em Santa Cruz de la Sierra, sobre a possibilidade de a Petrobrás voltar a injetar recursos no país. Mas, apesar de admitir que a Bolívia precisa de 'milhões e milhões' para desenvolver suas reservas de petróleo e gás ele fez questão de ressaltar que qualquer novo contrato terá de 'garantir o respeito às normas bolivianas'.

Entenda a crise do gás

Ontem, depois de uma reunião de quase quatro horas, na sede da estatal boliviana de petróleo YPBF, em La Paz, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, declarou que 'uma nova relação está começando' entre os dois países. 'Os contratos foram protocolizados e, agora, neste novo cenário, podemos começar a avaliar novos investimentos para aumentar a produção de gás na Bolívia', disse Gabrielli, que fez ontem sua primeira visita ao País desde a nacionalização boliviana, em maio do ano passado.

Sorridente, ao lado do presidente da YPFB, Guillermo Aruquipa, Gabrielli ressaltou os perfis da Bolívia, como produtora de gás, e do Brasil, como consumidor. 'A complementaridade de nossos interesses é muito clara.' Um discurso diametralmente oposto ao adotado na época em as novas regras bolivianas de taxação da produção de petróleo e gás foram anunciadas. Na ocasião, chegou a dizer que a estatal não investiria 'nem mais um tostão' na Bolívia.

Gabrielli deu a entender que as bases agora serão outras, ao lembrar que a Petrobrás tem hoje na Bolívia um marco legal, contratos de produção assinados, condições legais definidas. Sem detalhar os novos investimentos negociados, o executivo disse que o aumento da produção de gás não significa que o volume a mais produzido será exclusivamente exportado para o Brasil. Nova reunião vai ocorrer entre 26 e 30 deste mês, em local a ser definido.

Participaram ainda da reunião o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, os diretores da Petrobrás Graça Foster (Gás e Energia), Nestor Cerveró (Internacional) e o gerente executivo para o Cone Sul, Décio Odone.

Apesar de manter a retórica da soberania boliviana, Evo Morales sabe que terá de ceder nas negociações, pois também está em desvantagem, sem os investimentos que internaram US$ 1,5 bilhão em pouco mais de uma década. 'Necesitamos plata', destacou Evo ontem. A PDVSA, estatal venezuelana, não foi, como previam analistas, a substituta da Petrobrás nos investimentos na Bolívia. A estatal brasileira chegou a responder por 25% do PIB boliviano.

Anteontem os governos do Brasil e da Bolívia divulgaram a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Bolívia em 12 de dezembro. Os jornais bolivianos destacaram que será a primeira visita de Lula desde que Evo tomou posse, há 21 meses.