Título: Deputados negam ter votado questões de interesse de teles
Autor: Marques, Gerusa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2007, Negocios, p. B16

Segundo denúncia da revista Panorama, a Telecom Italia pagou proprina a deputados brasileiros

A Comissão de Ciência e Tecnologia entregou ao presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), ofício pedindo que sejam tomadas providências na Justiça do Brasil e da Itália sobre a denúncia de que a empresa italiana Telecom Italia teria pago propina a parlamentares da comissão em 2003. De acordo o presidente da Comissão, deputado Julio Semeghini (PSDB-SP), foi feito um levantamento das decisões da comissão durante 2002 e 2003. O levantamento, segundo ele, mostrou que não havia nenhuma votação sobre telefonia fixa ou celular que pudesse interessar à Telecom Italia ou a outra empresa e que expusesse os integrantes da comissão a pressões e lobbies.

A denúncia foi publicada na revista italiana Panorama e foi feita por um ex-diretor da Telecom Italia, Giuliano Tavaroli, em depoimento à Justiça italiana. A matéria diz que um emissário da empresa desembarcou em Brasília, em abril de 2003, transportando US$ 300 mil. Este dinheiro teria sido entregue a duas pessoas e, posteriormente, distribuído a uma série de políticos, inclusive membros da comissão, para a liberação de freqüências de telefonia.

Semeghini esclareceu que a comissão não aprova concessão de freqüências e que esta é uma atribuição da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ele negou que parlamentares da comissão tenham ingerência nas decisões da agência e afirmou que a Anatel não se submete a pressões de deputados.

O deputado lembrou que em 2003 ficou em evidência a disputa pelo comando da Brasil Telecom entre o grupo Opportunity, de Daniel Dantas, e os demais sócios da concessionária, como a Telecom Italia, os fundos de pensão e o Citigroup. A disputa chegou inclusive a envolver espionagem de políticos do governo Lula. 'A comissão não teve nenhuma participação nesta briga, que foi até motivo de espionagem', afirmou.

HACKERS

Na Itália, a Justiça acusa a Telecom Italia de ter usado um vírus de computador para espionar brasileiros. Três pessoas ligadas à operadora foram presas segunda-feira em Milão, suspeitas de envolvimento no caso Brasil Telecom, entre 2003 e 2005. Os presos são o ex-policial Angelo Iannone, que fazia parte do grupo de segurança da Telecom Italia, conhecido como Tiger Team; o técnico de informática Alfredo Melloni, 23 anos, hacker do Tiger Team; e Roberto Rangoni Preatoni, filho do empresário Ernesto Preatoni.

Eles são acusados de formação de quadrilha criminal, acesso abusivo a sistemas informáticos e interceptação abusiva de telecomunicações.

Nas 325 páginas do dossiê, o juiz Giuseppe Gennari reconstruiu o capítulo Brasil, no qual a Telecom Italia foi espionada e espionou diversas pessoas. Entre as suspeitas vítimas estão Carla Cico, ex-presidente da Brasil Telecom; Daniel Dantas, do Opportunity; e Fausto Carioti e Davide Giacaloni, jornalistas do diário italiano Libero. Além deles, homens da agência de investigações contratada pela Brasil Telecom para obter informações sobre os rivais italianos. Segundo o jornal La Repubblica, existe uma lista com diversos brasileiros que foram supostamente espionados. Não foram citados nomes de políticos brasileiros e o pagamento de propinas.

Para os investigadores, a hipótese é que todas as pessoas que tinham projetos na Brasil Telecom acabaram sendo vitimas de uma rede de ciberespiões italianos. Eles enviam um e-mail com vírus, chamado 'animaleto' (animalzinho), que roubava arquivos do computador infectado. Suspeita-se também que os próximos alvos seriam o mexicano Carlo Slim e a Vivo.

COLABOROU GINA MARQUES

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