Título: BRICs vão sair do papel e se transformar em grupo político
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2007, Economia, p. B11

Primeira reunião para iniciar diálogo e estabelecer formas de cooperação vai ocorrer no 1º semestre de 2008

Os BRICs vão sair do papel e podem se tornar um eventual grupo político. No primeiro semestre de 2008, Moscou irá sediar a primeira reunião ministerial entre Brasil, Rússia, Índia e China para que possam iniciar um diálogo e estabelecer formas de cooperação em áreas como energia, meio ambiente e comércio. Nos primeiros meses do ano, uma reunião de vice-ministros ocorrerá no Brasil para preparar a conferência.

O termo BRICs foi cunhado pelo banco americano Goldman Sachs para designar os países que a instituição identificou como potencialmente as maiores economias do mundo em 2050. As projeções são de que, se continuar a crescer no atual ritmo, o bloco será maior em termos de Produto Interno Bruto (PIB) que Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido, Franca e Itália.

Hoje, os quatro já representam 40% da população mundial e somarão em 2050 US$ 85 trilhões em PIB. Pela projeção, a China seria a maior economia do mundo, seguida por Estados Unidos e Índia. O Brasil seria a quinta maior economia. Em agosto, a China já alcançou o maior volume de exportações do mundo, pelo menos por um mês, superando a Alemanha.

A iniciativa de reunir politicamente esse grupo foi do Itamaraty, que já em agosto realizou em Nova York um almoço entre os chanceleres dos quatro países como um primeiro e informal passo para a institucionalização do grupo. Ficou estabelecido, portanto, que a coordenação seria cada vez mais intensa. Os BRICs agora trabalham para fechar uma agenda para o início de 2008 para uma formalização da aproximação.

Na questão do meio ambiente, por exemplo, a coordenação pode ter impacto, já que esses países estão sendo pressionados a adotar tetos de emissões de CO2.

O governo brasileiro estima que o projeto pode ter repercussões positivas, já que cada país do grupo tem sua influência sobre um determinado tema e esfera. A Rússia, por exemplo, é parte essencial de todos os debates sobre a questão energética na Europa e ainda faz parte do G-8.

Já Brasil e Índia têm um papel de relevância nas negociações comerciais da Organização Mundial do Comércio (OMC). Para completar, a China não apenas é membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) como deve se tornar até 2050 o maior mercado consumidor do planeta.

No Itamaraty, a idéia é de que o grupo não poderá mais ser ignorado quando as lideranças mundiais tomarem decisões que afetem todo o mundo. Para diplomatas, portanto, uma coordenação do grupo poderá ter um impacto relevante no cenário político internacional.