Título: Aos 84 anos, Mailer morre em Nova York
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2007, Vida&, p. A30

Um dos pais do jornalismo literário, escritor recebeu 2 prêmios Pulitzer

Afp, Ap, Efe e Reuters

O escritor norte-americano Norman Mailer morreu na madrugada de ontem, aos 84 anos, no Hospital Monte Sinai, em Nova York, Estados Unidos. A causa da morte foi insuficiência renal. Mailer estava sob terapia intensiva desde o mês passado, quando foi hospitalizado pela segunda vez por problemas respiratórios. No mesmo mês, ele havia se submetido também a uma cirurgia de pulmão.

Um dos principais autores da corrente literária dos anos 60 conhecida como ¿new journalism¿, ou jornalismo literário, Mailer escreveu mais de 40 livros, ensaios e peças para o teatro. Vencedor de dois prêmios Pulitzer, colaborou durante anos com a revista Esquire, uma das principais referências do romance de não-ficção.

Com uma carreira de quase 50 anos, o escritor foi co-fundador da revista alternativa nova-iorquina Village Voice. Filho de uma família judia de classe média de Long Branch (New Jersey), tornou-se um dos intelectuais mais conhecidos dos Estados Unidos e foi um dos grandes críticos da sociedade norte-americana. Mailer casou-se seis vezes e teve nove filhos. Vivia com a sua sexta mulher.

O escritor se definia como um ¿conservador de esquerda¿ e, nos anos 60, opôs-se à Guerra do Vietnã. Boa parte de suas obras é de conteúdo político. Detido várias vezes por suas brigas e pela oposição à guerra, o escritor se voltou também contra as feministas por seus comentários considerados machistas sobre as relações entre os sexos.

¿Acho que, agora que as mulheres atingiram poder e reconhecimento, tornaram-se muito iguais aos homens em cada estupidez, vício e falta de julgamento que tivemos no curso da História¿, declarou em uma entrevista promovida em 1991 pela Time com líderes feministas. ¿Elas pensam pequeno e lutam pelo poder. O movimento feminista está repleto de tiranas, do mesmo modo como os movimentos conduzidos pelos homens.¿

Em uma entrevista em 1998 para a TV francesa, comparou sua relação com os Estados Unidos a um casamento: ¿Amo esse país. Detesto-o. Tenho ódio dele. Sinto-me próximo a ele. Sou seduzido por ele. Sou repelido por ele. É um casamento que durou por pelo menos 50 anos da minha vida de escritor e, durante esse tempo, o que aconteceu? Ficou pior. Não é mais como no início¿.

Foi também amigo dos integrantes da geração beat. Entre suas obras mais famosas estão um romance sobre a 2ª Guerra Mundial (Os Nus e os Mortos), um pouco de jornalismo de campo (Os Exércitos da Noite) e um livro sobre a CIA (O Fantasma da Prostituta).

Mailer era fascinado pela fama, cultivando a sua própria e descrevendo a dos outros. Ele escreveu, por exemplo, uma polêmica biografia da atriz Marilyn Monroe. Embora tenha reconhecido que algumas de suas obras não resistiram ao passar do tempo, defendia o valor de alguns livros - especialmente Os Nus e os Mortos e O Fantasma da Prostituta. Em 1975, escreveu A Luta, que relata o mítico combate, ocorrido no ano anterior, entre Cassius Clay e George Foreman.

Ex-boxeador, Mailer às vezes levava discussões de idéias às vias de fato. Em 1971, ele agrediu o ensaísta Gore Vidal diante das câmeras de televisão. O escritor feriu sua segunda mulher, Adele, com uma navalha em 1962 após uma bebedeira e foi internado em um asilo psiquiátrico por 15 dias. Logo depois, o casal se separou. Em Um Sonho Americano, refletiu sobre sua vida por meio de um personagem semiautobiográfico que mergulha em um mundo de violência e sexo.

Em seu último livro, The Castle in the Forest (O Castelo no Bosque) - que foi publicado neste ano nos EUA e deve sair no Brasil no mês que vem -, imagina a infância de Adolf Hitler e apresenta o futuro ditador como fruto de uma relação incestuosa.

POLEMISTA

Mailer adorava expressar opiniões polêmicas. ¿A América é um furacão. As únicas pessoas que não ouvem o barulho são aqueles afortunados e incrivelmente estúpidos protestantes, que moram no centro do país, no olho sereno do tufão¿, destacou, em um dos seus ensaios. Em outro texto, disse que a masculinidade não é algo com que se nasce. ¿É algo que você ganha. E você ganha vencendo pequenas batalhas com honra. Como há pouca honra hoje na vida americana, há uma tendência em destruir a masculinidade nos homens de nosso país.¿ Mailer chegou a dirigir quatro longas-metragens.

Ele também atuou em filmes de Milos Forman e Jean-Luc Godard. Chegou a ser candidato a prefeito de Nova York, em 1969.

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