Título: Múltis vão triplicar fatia de reservas
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/11/2007, Economia, p. B8

Participação é de 5% e deve subir para 15% com nova descoberta

O peso das grandes petrolíferas multinacionais nas reservas brasileiras deverá triplicar com a megadescoberta anunciada quinta-feira pela Petrobrás. Atualmente, as multinacionais que participam da exploração de petróleo e gás no Brasil têm reservas identificadas estimadas em cerca de 700 milhões de barris, ou 5% do total no País.

Caso confirmado o potencial máximo de 8 bilhões de barris de petróleo no campo de Tupi, a fatia de reservas nas mãos de multinacionais subirá para 3,5 bilhões de barris, o equivalente a 15% do novo potencial de reservas brasileiras.

Atualmente, as reservas de petróleo e gás no País estão estimadas em 14,4 bilhões de barris, total que subirá para 22,4 bilhões, caso confirmado o potencial máximo informado quinta-feira pela Petrobrás para o novo bloco na Bacia de Santos. Nesse bloco, a Petrobrás participa com 65%, a inglesa BG com 25% e a portuguesa Petrogal com 10%. Assim, a fatia das duas estrangeiras nas reservas potenciais, se confirmadas no limite máximo, somariam 2,8 bilhões. Até então, nenhuma outra multinacional tinha reservas identificadas acima da casa do bilhão de barris, dizem especialistas.

¿Essa conta (do crescimento das multinacionais) deve ter sido feita pelo governo para melar a licitação. Apenas com a área de Tupi o peso das empresas estrangeiras nas reservas passaria para 15%. Aí devem ter achado que deviam segurar essa licitação ou deixá-la acontecer apenas nos campos com pouca probabilidade de petróleo¿, disse o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, citando que o governo tem um viés nacionalista.

EM TERRA

Conforme estimativa do centro, o peso das multinacionais atualmente equivale a 5%. Na prática, a consultoria estima que perto de 700 milhões de reservas estão nas mão de empresas privadas, na quase totalidade multinacionais. Isso porque empresas brasileiras, na maioria, têm poços em terra, com menor volume de reservas. Não há dado oficial publicado sobre a participação das empresas estrangeiras nas reservas brasileiras. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulga o volume de reservas apenas por Estados ou campos. O dado não é aberto por empresas.

Mesmo entidades do setor também não têm uma estimativa pronta sobre a participação das multinacionais nas reservas. A entrada das empresas na exploração e produção passou a ser possível com a abertura do setor, em 1998. Desde então, essas empresas entram sozinhas ou em consórcios com outras companhias, como a própria Petrobrás, para participar dos leilões de licitação de blocos exploratórios.

¿O volume de reservas com as estrangeiras é muito pouco¿, diz o integrante do Grupo de Energia da Petrobrás, Hélder Queiroz, citando que apenas nos últimos anos começam a aparecer os resultados das primeiras pesquisas feitas desde a abertura.

A Shell é considerada por especialistas como a multinacional com maiores reservas comprovadas no País. A empresa informou ontem que as reservas foram estimadas na época da descoberta em cerca de 560 milhões de barris no campo, no qual participa com 50% no projeto. A companhia também informa que foi a primeira empresa do setor a produzir petróleo no País em escala comercial, na Bacia de Campos, com investimentos de US$ 1,5 bilhão desde o início das operações, em 1998.

NOVA CORRELAÇÃO

Segundo o pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da UFRJ, Giuseppe Bacoccoli, a descoberta recente na área de Tupi muda a correlação de forças entre reservas nas mãos de empresas estrangeiras. ¿A tal ponto desequilibra que o pessoal ficou apavorado¿, disse Bacoccoli. Além da BG, Petrogal e Shell, outras companhias já operam no setor no País, com reservas identificadas, como a Chevron, Devon, Repsol, El Paso e Norsk Hydro/Statoil.

De forma geral, a avaliação entre os especialistas é de que a retirada dos 41 blocos do leilão, definida anteontem pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), tende a reduzir o interesse das empresas estrangeiras em novas licitações. ¿Vai desestimular¿, afirma Queiroz. Já Bacoccoli argumenta que as empresas se preparam para o leilão, fazem mapeamentos, contratam consultorias, compram dados. Ele chega a comentar que é como se afastassem interessados potenciais quando o negócio parece ficar bom. ¿Acho péssimo. Estão querendo mexer no mercado¿, afirma Bacoccoli.

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