Título: Inflação de ministérios na era Lula acirra briga por espaço na Esplanada
Autor: Domingos, Joao
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2007, Nacional, p. A6

Disputa existe desde que conjunto de 17 prédios foi erguido, mas se agravou no atual governo, com suas 37 pastas

No mês passado, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, aproveitou uma reunião de deputados do PT e fez uma reclamação. Deveria ser secreta, mas vazou. ¿Meu ministério cuida de 50 milhões de brasileiros, mas não tem um espaço físico definido na Esplanada.¿ Por isso, queixou-se o discreto Patrus, que teve de distribuir os 1.255 servidores sob seu comando em cinco prédios diferentes, dois deles na parte frontal da Esplanada dos Ministérios, um nos fundos, um no Setor de Embaixadas Sul e outro no Setor de Autarquias Norte, o imponente Palácio dos Transportes, sede do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).

Veja especial sobre os ministérios

A reclamação de Patrus é comum a seus colegas, todos eles envolvidos numa silenciosa disputa ¿fundiária¿ por mais espaço na Esplanada dos Ministérios. Uma disputa que, às vezes, como solução de curto prazo amontoa os ministros.

A maior concentração de ministérios e secretarias se encontra no Bloco A da Esplanada, o primeiro abaixo da Catedral de Brasília. Por ter tantos condôminos, o Bloco A é conhecido por ¿cortição¿. Mas também é chamado de ¿Torre de Babel¿ e de ¿balança-mas-não-cai¿ - lá estão instalados os Ministérios das Cidades, do Desenvolvimento Agrário e dos Esportes e as Secretarias de Comunicação Social e de Igualdade Racial.

O conflito entre as variadas administrações do ¿cortição¿ foi tão grande no início do governo que o presidente Lula nomeou síndico do prédio e responsável por dar um pouco de ordem à bagunça o então ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz.

CERCA

A briga por espaço envolve também o Senado. Há dois meses o Ministério da Justiça foi surpreendido quando viu seu estacionamento invadido. Em menos de dois dias, operários contratados pelo Senado cercaram o local e passaram a impedir a entrada de servidores da Justiça. A reação não demorou. Há 15 dias o Ministério da Justiça deu o troco. Também contratou operários, que em menos de um dia derrubaram as cercas erguidas pelo Senado e construíram outras. Para evitar novos problemas, agora o local é vigiado 24 horas por seguranças da Justiça.

O próprio Ministério do Planejamento - encarregado de administrar todo o patrimônio da União - está distribuído em oito locais diferentes. O ministro Paulo Bernardo despacha no Bloco K, enquanto parte de sua equipe atua do outro lado da Esplanada, no Bloco C, justamente onde Patrus dá expediente. A Secretaria de Orçamento Federal, também do Planejamento, está localizada quase no fim da Asa Norte, a cerca de 5 quilômetros de distância. Lá também estão algumas secretarias do Ministério da Saúde.

A disputa por espaço na Esplanada dos Ministérios existe desde que o conjunto de 17 prédios foi construído, ainda nos anos 60. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o então ministro das Comunicações, Hugo Napoleão, chegou a invadir um andar inteiro de seu colega dos Transportes. Mas no governo Lula a disputa se agravou, pois houve um inchaço no número de ministérios e de secretários com status de ministros. No total, são 37.

PLANALTO

Só no Palácio do Planalto despacham cinco ministros: Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Jorge Félix (Segurança Institucional), Franklin Martins (Comunicação de Governo) e Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais). Essa ocupação de ministros nas vizinhanças do presidente da República expulsou um bom pedaço da burocracia do Planalto para o prédio da Vice-Presidência, um conjunto enterrado no chão, ao lado. Lá, além do gabinete do vice José Alencar, ficam o restaurante, bancos, administração e segurança.

Em junho, quando foi nomeado ministro da Secretaria de Ações de Longo Prazo, o sociólogo Mangabeira Unger saiu à cata de um espaço nobre. Foi-lhe oferecido um gabinete no Bloco A, de onde despachava o ex-ministro Luiz Gushiken. Mangabeira - que antes de assumir o cargo classificava o governo Lula de o mais corrupto da história - regateou. Exigiu um lugar no Palácio do Planalto.

Mas lá, vaga não existe. Esperneou até que lhe arranjaram um lugar no prédio do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Quando o Senado rejeitou a criação do cargo de Mangabeira Unger, restou ao presidente Lula nomeá-lo para um posto que já existia, o de secretário do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE).

Mangabeira continuou sem lugar. Foi bater à porta do Comando do Exército. E teve êxito. Conseguiu três andares de lá. Todos já estão em reformas. O primeiro deverá ser-lhe entregue em dezembro.

A ida de Mangabeira para o prédio do Comando do Exército registra um feito histórico. Desde o fim do regime militar, em 1985, nenhum civil havia conseguido avançar sobre o espaço dos militares, objeto do olho grande de todos os ministros. Os militares continuam com quatro edifícios na Esplanada - um para o Ministério da Defesa e outros destinados aos comandos das três Armas. O do Exército agora tem uma cunha civil.

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