Título: As remessas de dividendos dos IEDs
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2007, Economia, p. B2
Em setembro, as remessas de lucros e dividendos das empresas estrangeiras somaram US$ 1,740 bilhão, acusando um crescimento de 98% em relação ao mesmo mês do ano anterior, enquanto, na mesma comparação, os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) apresentaram queda de 9,5%. Poder-se-ia concluir que a entrada de IEDs não atende a nenhum interesse do País.
Ainda que o montante dos IEDs de setembro possa ter sido afetado pela crise nos EUA - o que é plausível, pois nos nove primeiros meses deste ano eles aumentaram 135% em relação ao mesmo período de 2006 -, é preciso analisar esses dados num outro contexto.
Os lucros e dividendos remetidos por empresas estrangeiras não podem ser comparados com os IEDs do período, mas, sim, com o estoque de investimentos. Levando em conta os últimos 12 meses, verifica-se que a entrada de IEDs somava US$ 34,889 bilhões no final de setembro (últimos dados divulgados), e as remessas, no mesmo período, US$ 15,619 bilhões ou 44,7% das entradas, o que, sob este aspecto, levaria a concluir que o País não teria grande interesse, sob o ângulo financeiro, em acolher o capital estrangeiro.
Mas o estoque de investimentos estrangeiros era, em março (último dado), da ordem de US$ 257,6 bilhões e, admitindo-se que esse valor não se tenha alterado significativamente até setembro (ou seja, menosprezando as entradas adicionais de IEDs posteriores a março), se chega à conclusão de que as remessas representaram apenas 6% do estoque de IEDs, o que está muito longe de representar um abuso da parte das empresas estrangeiras.
O único fato que poderia ser discutido é a elevação do estoque, que era de US$ 121,9 bilhões em 2002, acusando crescimento de 111% em 5 anos.
Temos de levar em conta que houve uma apreciação do real em relação ao dólar, que aumentou o valor patrimonial das empresas estrangeiras que operam no Brasil, além do fato de a recuperação da economia brasileira no período ter propiciado um aumento dos lucros das empresas estrangeiras.
A valorização do real estimulou as empresas estrangeiras a remeter dividendos, ao contrário do que se via no passado. E não se pode avaliar os IEDs apenas em razão das remessas, mas lembrando que essas empresas estrangeiras trazem um know-how precioso para o Brasil, além de criar empregos aqui e abrir novos mercados no exterior.