Título: No agreste de PE, morador economiza água de cisterna
Autor: Lacerda, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2007, Nacional, p. A8

Antes de receber equipamento de R$ 1,5 mil, Odon e família recorriam a barreiro e poço d¿água insalubre

Riacho das Almas - Odon Edmundo de Moura, 32 anos, trata como um bebê a cisterna de captação de água da chuva que ajudou a construir há um ano, ao lado de sua casa, no Sítio Areias, zona rural de Riacho das Almas, município de 20 mil habitantes no agreste pernambucano. ¿Tem que ter cuidado, é com ela que temos água para beber, cozinhar e escovar os dentes¿, afirma ele, que tem a lição sobre uso da cisterna na ponta da língua.

Antes da cacimba, ele utilizava a água de um barreiro próximo. Quando o barreiro secava, ele recorria a um poço - cuja água salgada era levada em baldes. Por enquanto o barreiro ainda não secou e fornece a água para banho, limpeza da casa e animais. A cisterna de Odon é uma das 220 mil já construídas pela Articulação do Semi-Árido (ASA) dentro do Programa Um Milhão de Cisternas, que já beneficia 1 milhão de pessoas em todo o semi-árido brasileiro.

Cada cacimba tem capacidade para 16 mil litros e capta água da chuva, através de calhas instaladas no telhado da casa, a um custo de cerca de R$ 1,5 mil. A de Odon foi abastecida há alguns meses, quando choveu no local.

FEIRA

Casado, três filhos, ele admite que utiliza a água da cisterna para dar banho no filho caçula, Olavo, de 10 meses, para evitar problemas na pele da criança. Sem ter como plantar com a estiagem, Odon e a mulher, Maria Cristina, de 27 anos, costuram roupas de criança - shortinhos e camisetas - para vender na Feira da Sulanca, semanalmente, em Caruaru, distante menos de 30 quilômetros de Riacho das Almas. O rolo de tecido foi comprado a prestação. ¿A gente tem que se virar¿, diz Odon, que já foi pedreiro e agora usa linha e agulha para sustentar a família, por enquanto com três filhos.

No Sítio Bento, a alguns quilômetros de Odon, Maria Aparecida da Silva, 36 anos, vive outra realidade. O marido, Cícero João da Silva, 46 anos, planta milho e feijão ¿na terra dos outros¿. Sem chuva, vez por outra ele faz um bico: corta lenha de algaroba para uma cerâmica de Pau Dalho, na zona da mata. O metro cúbico de lenha custa R$ 5,00.

BOLSA-FAMÍLIA

Dos sete filhos que estudam, os meninos de 8, 9 e 10 anos cursam a segunda série. As meninas de 10, 12 e 13 anos cursam a quarta série. O mais novo, de 6 anos, está na primeira. Aparecida e os filhos buscam água para beber em um lago comunitário a cerca de 500 metros da casa. ¿É uma luta¿, resume Aparecida. O que os salva é o Bolsa-Família, R$ 102,00.

Distante 160 quilômetros do Recife, Riacho das Almas está em situação de emergência e a zona rural vem sendo abastecida com carros-pipa. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Maria de Lourdes da Silva, atesta que 80% da lavoura de subsistência foi perdida por causa da estiagem. O município não conta com indústria ou outra atividade econômica. Segundo ela, 65% da população vive da agricultura de subsistência.

Links Patrocinados