Título: Espanha não romperá com Chávez
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2007, Internacional, p. A15

Oposição exige convocação do embaixador espanhol em Caracas, mas governo tenta amenizar crise com Venezuela

REUTERS, EFE E AP

Madri - O governo da Espanha tentou ontem amenizar o efeito da crise aberta com o bate-boca entre o rei espanhol Juan Carlos e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no sábado, durante a Cúpula Ibero-Americana, em Santiago (Chile). O ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Angel Moratinos, rejeitou qualquer sanção diplomática contra Caracas e classificou o caso como ¿incidente diplomático¿.

Moratinos disse que a discussão não deve afetar as relações bilaterais entre os dois países. Um eventual afastamento, segundo ele, prejudicaria tanto a Venezuela quanto a Espanha. Desde que Chávez assumiu o poder, em 1999, empresas espanholas já investiram cerca de US$ 2,5 bilhões na Venezuela. Entre os principais investidores estão os bancos Santander e BBVA, a companhia de petróleo Repsol, a Telefônica e a seguradora Mapfre.

A oposição elogiou a atitude do rei, mas pediu medidas duras por parte do governo socialista do premiê José Luis Rodríguez Zapatero contra a Venezuela. Ángel Acebes, secretário-geral do oposicionista Partido Popular (PP), exigiu ontem que o governo chame seu embaixador em Caracas.

A pouco mais de três meses das eleições gerais, marcadas para março, a discussão entre Juan Carlos e Chávez parece ter aberto a campanha eleitoral espanhola. Praticamente empatados em pesquisas de opinião divulgadas ontem, o PP aproveitou o caso para criticar a política externa do premiês socialista, considerada ¿negligente¿ e ¿muito tolerante¿ com Chávez. O PP é o partido do ex-premiê José Maria Aznar - que foi chamado de ¿fascista¿ por Chávez e acabou sendo o pivô do bate-boca com o rei.

O Partido Socialista (PSOE) contra-atacou imediatamente, dizendo que Aznar reuniu-se 14 vezes com Chávez e, em um desses encontros, chegou a dizer ao presidente venezuelano que ¿a Espanha não pode dar lições de democracia a ninguém¿. Aznar, que está na Colômbia para uma série de conferências, não quis comentar o caso.

A polêmica envolvendo o ex-premiê começou quando Chávez, em seu discurso na Cúpula Ibero-americana, acusou Aznar de participação no fracassado golpe de estado contra ele, em abril de 2002. ¿É um fascista¿, disse Chávez. Zapatero defendeu o ex-premiê, exigiu ¿respeito¿, já que Aznar havia sido eleito pelos espanhóis.

Zapatero e Chávez começaram então uma dura discussão - que mais parecia um monólogo de Chávez. Irritado, o rei (que estava sentado ao lado de Zapatero) apontou para Chávez e gritou: ¿Por que você não se cala?¿

Se o governo espanhol tenta colocar panos quentes no assunto, para Chávez a briga parece estar começando. Ao desembarcar em Caracas do domingo à noite, Chávez disse que não ouviu quando o monarca mandou que calasse a boca. ¿Teve sorte o senhor Juan Carlos. Eu não sei o que teria dito a ele.¿

Chávez disse ainda que Juan Carlos sabia do golpe de Estado que tentou derrubá-lo em 2002. ¿Eu me pergunto: será que o rei sabia do golpe contra mim em 2002?¿, disse o venezuelano. ¿Senhor rei, lhe digo o seguinte: estamos a 500 anos aqui e nunca nos calaremos. Muito menos diante de um monarca.¿

FRASES

Juan Carlos Rei da Espanha

¿Por que você não se cala?¿, a Chávez, durante a Cúpula Ibero-americana

Hugo Chávez Presidente da Venezuela

¿Senhor rei, responda: o senhor sabia do golpe de Estado contra a Venezuela?¿, ao chegar a Caracas

Links Patrocinados