Título: Seul tenta acelerar acordo de paz
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2007, Nacional, p. A10

Presidente sul-coreano quer se consolidar como mentor da unificação antes de deixar o cargo, no início de 2008

As restrições dos Estados Unidos não intimidam a Coréia do Sul em sua meta de acelerar as negociações de um acordo de paz com a Coréia do Norte e concluí-las antes de fevereiro de 2008 - quando o presidente sul-coreano Roh Moo-hyun passará o cargo para o candidato vencedor das eleições do próximo mês. Roh espera entrar para história como o líder que deu o primeiro passo em direção à unificação e, ao apressar o diálogo com o regime comunista norte-coreano liderado por Kim Jong-il , pretende evitar recuos nas negociações, caso o conservador Lee Myung-Bak vença a eleição presidencial.

Os EUA ainda insistem na assinatura da declaração de paz entre as duas Coréias apenas depois de concluída a segunda fase de desmontagem do programa nuclear de Pyongyang. A Coréia do Norte já aceitou começar a desativar o principal reator do país, em Yongbyon, e comprometeu-se a receber peritos nucleares norte-americanos, além de fornecer todos os detalhes de seu programa no setor até 31 de dezembro.

Esse passo foi considerado positivo pelo grupo de países que negociou com Pyongyang (Coréia do Sul, EUA, China, Japão e Rússia). Mas, dificilmente, significará a desativação total do complexo nuclear norte-coreano antes de fevereiro.

¿Mesmo assim, vamos tentar antecipar a declaração de paz¿, afirmou ao Estado o vice-ministro da Unificação, Park Chan-Bong, em sintonia com a posição expressa pelo presidente.

Do ponto de vista de Seul, a cooperação econômica é o caminho inevitável e mais seguro para aliviar as tensões no Mar Amarelo e alcançar o armistício entre as duas Coréias. As questões militares serão tratadas entre os próximos dias 27 e 29, em Pyongyang, pelos ministros da Defesa dos dois países.

O primeiro-ministro da Coréia do Sul, Han Duck-soo, reuniu-se na semana passada com o seu colega norte-coreano, Kim Yong-il, em Seul, para detalhar a agenda de pacificação. Segundo Park, o premiê norte-coreano concordou com a ampliação do complexo industrial de Kaesong, antiga capital da península que hoje abriga 50 empresas sul-coreanas, uma alemã e outra chinesa.

Kim também aceitou a construção de outros dois pólos produtivos do lado norte-coreano, que seriam uma espécie de garantia adicional contra possíveis conflitos. Na Costa Oeste será instalado o futuro complexo industrial de Haeju, às margens do Mar Amarelo. E, na Costa Leste, voltada para o Mar do Japão, um pólo de construção naval em Ambyum.

A cooperação econômica cada vez mais intensa ainda não alivia, entretanto, a tensão permanente, nem indica que Pyongyang pretende abraçar uma receita híbrida de capitalismo, como o modelo adotado por Pequim. Recentemente, o próprio ditador norte-coreano afirmou que ¿a Coréia do Norte não é a China¿, em uma clara advertência de que manterá seu país fechado ao resto do mundo.

UNIFICAÇÃO

Por sua vez, o ministro da Defesa da Coréia do Sul, Kim Jang-soo, disse na semana passada que a Coréia do Norte continua a ser uma ameaça para seu país. ¿Continuamos tecnicamente em guerra. A Coréia do Norte é, claramente, uma ameaça para nós. Mas não podemos ficar parados. Queremos aumentar o contato para uma futura unificação¿, reiterou Park. ¿Para realizar o nosso plano, primeiro a Coréia do Norte tem de se desarmar nuclearmente.¿

De fato, seria ingênuo imaginar que a negociação da declaração de paz seria, por si só, garantia contra novos conflitos. Desde 1953, ao final de três anos de uma devastadora guerra que deixou 3 milhões de mortos, ambos os países vivem apenas sob a tênue condição do cessar-fogo. Essa situação é facilmente observada na Zona Desmilitarizada - uma faixa de dois quilômetros de cada lado da fronteira, ao longo do Paralelo 38, onde se concentram as tropas dos dois países.

A Coréia do Norte, além do domínio da tecnologia nuclear, conta com 1 milhão de soldados mobilizados. A Coréia do Sul não fica atrás e ainda permite a presença de 12 bases norte-americanas, com um total de 37 mil militares, em seu território.

* A repórter viajou a convite da Embaixada da Coréia do Sul em Brasília e da Korean Press Foundation

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