Título: Na Câmara, conselho absolve irmão de Renan
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2007, Nacional, p. A9

Por unanimidade de votos, foi arquivada denúncia contra Olavo Calheiros no caso Schincariol

Em sessão concorrida como há muito tempo não se via no Conselho de Ética da Câmara, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi absolvido por unanimidade ontem no processo de cassação de mandato por quebra do decoro parlamentar. Foram a favor do parecer do relator, José Carlos Araújo (PR-BA), pelo arquivamento, os 14 deputados que votaram no colegiado.

A reunião se transformou em uma grande sessão de desabafo dos deputados contra a imprensa e até contra programas humorísticos da TV. O líder do PSOL, partido que apresentou a denúncia contra Calheiros, Chico Alencar (RJ), pregou sozinho por mais investigações.

Calheiros foi denunciado por suposto favorecimento à cervejaria Schincariol, para a qual vendeu uma fábrica de refrigerantes em Murici (AL), cidade dominada politicamente por sua família. Também foi investigado por ligações suspeitas com Zuleido Veras, dono da construtora Gautama, preso na Operação Navalha.

O relator argumentou, com a concordância dos colegas, que não há nenhuma prova contra Calheiros. ¿Se Olavo Calheiros é santo, tenho certeza que não, mas nem por isso ele vai arder na fogueira da injustiça¿, disse Araújo em seu parecer.

O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), reagiu ao comentário de Chico Alencar de que, no colegiado, ¿a ordem tácita é não investigar¿. ¿Eles encaminharam apenas com base em recortes de jornal. Isso dificulta nosso trabalho, não havia nem indícios de provas¿, reagiu Izar.

Entre os deputados que atacaram a imprensa com mais vigor, estava Abelardo Camarinha (PSB-SP), que reclamou até do programa Zorra Total e do humorista Tom Cavalcanti, ¿que jogam a imagem do Congresso no lixo¿. Para Camarinha a mídia ¿não informa, deforma¿.

Já o relator encerrou a defesa de seu parecer com ataques ao líder do PSOL. ¿Vossa excelência conseguiu o que queria: ter a mídia e a opinião pública do seu Estado. Vossa excelência é um grande marqueteiro.¿ Foram à sessão do conselho prestigiar o deputado alagoano, entre outros, seu irmão Renildo Calheiros (AL), líder do PC do B na Câmara, e o ex-presidente da Casa Aldo Rebelo (PC do B-SP), antigo aliado da família.

CARRANCA

Chico Alencar lembrou que a Operação Carranca da Polícia Federal, que prendeu envolvidos num esquema de fraude em projetos federais em municípios alagoanos, poderia trazer novos elementos para as denúncias de corrupção e tráfico de influência no Estado. ¿Não é possível colocar o deputado no banco dos réus a vida inteira. E a honra do deputado Olavo Calheiros, onde vai?¿, respondeu Moreira Mendes (PPS-RO).

Mesmo os deputados da oposição reconheceram que a investigação não produziu provas contra Calheiros. A representação do PSOL pediu investigações para apurar se a venda da fábrica de refrigerantes do deputado para a Schincariol, por R$ 27 milhões, foi resultado de acordo para livrar a empresa de mais de R$ 100 milhões em dívida com a Receita Federal. Segundo o relator, as dívidas da Schincariol são de cerca de R$ 18 mihões e ¿não se pode considerar que ela pagaria R$ 27 milhões por uma fabrica com o fito de liberar-se de uma dívida de valor menor do que o da unidade adquirida¿.

Calheiros abriu mão do tempo a que tinha direito para se defender e deixou a sessão do conselho logo depois de aprovada sua absolvição, sem dar declarações.