Título: Panorama visto da OMC
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2007, Notas e Informaçoes, p. A3
O Brasil continuou marcando passo no comércio mundial, no ano passado, com uma fatia de apenas 1,1% das exportações globais, enquanto outros emergentes continuaram ampliando sua participação. O País faturou US$ 137,5 bilhões com as vendas externas em 2006, 16% mais que no ano anterior. Esse crescimento foi o dobro da expansão do comércio mundial, mas não bastou para garantir uma classificação melhor entre as nações comerciantes. O Brasil caiu da 23ª para a 24ª posição, a mesma de dois anos antes. Na lista dos 50 países com maior faturamento em dólar, 24 exibiram crescimento de vendas maior que o brasileiro. Destes ainda sobram 15, quando se excluem da lista os exportadores de petróleo, beneficiados pelos grandes aumentos de preços.
O governo brasileiro deveria dar maior atenção ao relatório global divulgado periodicamente pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Com enorme volume de informações e dados sobre todos os países participantes do mercado internacional, esse documento permite comparações úteis. Autoridades brasileiras costumam confrontar o Brasil de hoje com o de ontem para avaliar o progresso econômico e social. É um exercício útil, e até necessário, mas também é preciso, para avaliação de resultados e formulação de políticas, comparar o desempenho brasileiro com o de outros países.
Quando se olha para fora, os progressos obtidos no Brasil, embora importantes em vários campos, parecem muito menos satisfatórios. Um exemplo bem conhecido é a educação. A instrução básica difundiu-se notavelmente nos últimos 15 anos, mas a mão-de-obra, no Brasil, permanece, na média, bem menos qualificada e menos produtiva que a de outros países de industrialização semelhante.
O desempenho comercial brasileiro também se torna menos brilhante, quando comparado com o de outros emergentes. Em parte isso se explica pela menor integração no mercado mundial. Entre 2004 e 2006, o comércio brasileiro - exportações mais importações - correspondeu em média a 24,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Na China, essa proporção alcançou 69%. Na Índia, 41,8%. Na Rússia, 55,8%. No Chile, 73,2%. Na Colômbia, 41,2%. A lista de países com abertura comercial maior que a do Brasil é muito mais extensa, mas esses poucos exemplos devem ser suficientes como ilustração.
A economia brasileira foi muito mais fechada até recentemente e houve sem dúvida uma transformação importante nos últimos anos. A mudança começou na década passada, quando as barreiras à importação foram severamente reduzidas. Mas a exportação demorou a deslanchar e o crescimento só se acentuou depois da mudança cambial de janeiro de 1999. Quanto à importação, ainda é bem menor do que poderia ser e o Brasil aparece na lista da OMC no 28º lugar entre os maiores compradores.
Uma abertura comercial maior poderia contribuir para uma transformação social e econômica mais rápida. Num país mais exposto à concorrência global haveria menor tolerância com a educação de baixa qualidade. A pressão pela melhora dos gastos públicos e por maiores investimentos em infra-estrutura seria provavelmente muito mais forte.
Mas uma abertura maior teria de envolver uma diplomacia comercial muito mais eficiente e menos ideológica do que tem sido nos últimos cinco anos. Entre 2000 e 2006, o Brasil apenas manteve sua participação (0,7%) no valor importado pela União Européia. Enquanto isso, a participação da América do Sul e da América Central cresceu de 1,7% para 1,9%; a da África, de 2,9% para 3,1%; e a da Comunidade de Estados Independentes (antigos integrantes da União Soviética), de 2,3% para 4%. A da China quase dobrou, de 2,7% para 5,1%. Se o Mercosul tivesse concluído o acordo de livre-comércio com os europeus, negociado infrutiferamente durante mais de dez anos, os produtores brasileiros teriam tido oportunidades bem melhores naquele mercado. A mesma observação vale para o comércio com os Estados Unidos, onde a participação brasileira até aumentou nesse período - de 1,2% em 2000 para 1,5% em 2006 -, porém menos do que poderia ter aumentado, mesmo com a concorrência chinesa, se a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) não tivesse fracassado.
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