Título: Cristina Kirchner visita Lula segunda
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2007, Nacional, p. A12

Presidente brasileiro será o primeiro chefe de Estado que ela visitará após vitória nas eleições argentinas

A presidente eleita da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, desembarcará em Brasília na segunda-feira para reunir-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Será o primeiro chefe de Estado que Cristina visitará após a vitória nas eleições argentinas, com 45,29% dos votos.

A viagem promete ser carregada de simbolismo alusivo à integração brasileiro-argentina. O Brasil, segundo Cristina, é um exemplo a ser seguido. Com essa postura, ela pretende enterrar no passado o comportamento intempestivo que seu marido - o presidente Néstor Kirchner - teve em várias ocasiões com Lula.

Fontes diplomáticas confirmaram que a presidente eleita ficará menos de 24 horas em Brasília. Além do encontro com Lula, não se descarta a realização de outras atividades. Na visita anterior, em outubro, durante a campanha eleitoral, Cristina reuniu-se com altos executivos de empresas brasileiras.

Dessa forma, ela cumpre a promessa de eleger o Brasil para sua primeira viagem ao exterior para encontro exclusivo com um chefe de Estado. Na semana passada, ela esteve em Santiago, no Chile, para a Cúpula Ibero-Americana, que não teve característica bilateral.

A relação da Argentina com o Brasil, sustentam economistas e analistas políticos, tende a aprofundar-se e estabilizar-se no governo Cristina, o que implicaria uma guinada no estilo adotado por Kirchner. Nos últimos quatro anos e meio, o presidente argentino alternou momentos de aproximação com brigas - que incluíram descortesias em cúpulas presidenciais e anúncios inesperados de medidas protecionistas antibrasileiras.

A perspectiva é de que, em princípio, a relação Cristina-Lula não teria mais os drásticos altos e baixos da era Kirchner, tendendo a um convívio mais estável. Os analistas afirmam que a presidente eleita pretende reforçar o lado internacional da agenda argentina, que durante a gestão Kirchner não foi considerada prioridade.

ELOGIOS

Desde a campanha Cristina foi generosa em elogios ao Brasil e à indústria brasileira. No próprio comício de lançamento de sua candidatura, afirmou que o País era um exemplo a ser seguido e citou a companhia Embraer como um modelo de desenvolvimento de tecnologia e sucesso de negócios. Durante a campanha inaugurou a fábrica de calçados da empresa brasileira Paquetá na cidade de Chivilcoy, na província de Buenos Aires. Durante sua visita anterior a Brasília, ao reunir-se com empresários brasileiros após o encontro com Lula, Cristina afirmou que ¿a reindustrialização (da Argentina) deve ser ajudada pelo Brasil¿.

Além disso, nas últimas semanas, sustentou que os dois países vivem ¿um período inédito de relançamento das relações¿. ¿Estamos em fina sintonia!¿, ressaltou.

Antes de partir para o Brasil, Cristina deve anunciar a formação de seu gabinete, e assim, eliminar os rumores sobre a dança de cadeiras dos ministérios. A perspectiva é de que mantenha grande parte dos ministros de seu marido. Mas, ela não deve manter no posto o ministro da Economia, Miguel Peirano, que - por divergências com outros integrantes do gabinete - deixaria o cargo no dia 10 de dezembro.