Título: Oposição usa Renan como trunfo para retardar CPMF
Autor: Scinocca, Ana Paula; Teixeira, Ariosto
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2007, Nacional, p. A8

PSDB e DEM não querem ficar a reboque do calendário do governo e, ao embaralhar votações, dificultam articulações pela aprovação do tributo

A oposição desencadeou ontem uma ofensiva com o objetivo de retardar a aprovação da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Em um primeiro movimento, decidiu que a partir de hoje senadores tucanos e do DEM vão obstruir as votações no Senado. Paralelamente, o líder do PSDB na Casa, Artur Virgílio (AM), manobrou para retardar a tramitação do processo por quebra de decoro contra o presidente licenciado Renan Calheiros (PMDB-AL).

Por trás da operação, está o fato de que a oposição não quer ficar a reboque do calendário do governo. Pelos cálculos e acordos articulados pela base aliada, Renan seria absolvido na próxima quinta-feira, com a ajuda de senadores governistas, do PT inclusive, e retribuiria despejando votos em favor da CPMF. Ao embaralhar os calendários, adiando a votação em plenário do processo contra Renan, a oposição tensiona as articulações do governo em favor do imposto do cheque.

¿A partir de amanhã (hoje) vamos começar uma série de obstruções¿, avisou o líder tucano. Virgílio citou uma série de atitudes do governo que justificam a manobra, como a decisão do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, de afastar do órgão economistas contrários ao governo.

¿Há o expurgo do Pochmann, o elogio do presidente Lula à democracia chavista, sem contar os acordos feitos que depois são derrubados nos plenários da Câmara e do Senado¿, afirmou o tucano. Indagado sobre o acordo firmado para livrar Renan da cassação e aprovar a CPMF, Virgílio disse: ¿Inocentemente, colocamos água nesse chope.¿

EMENDAS

O governo esperava, conforme afirmou o presidente interino da Casa, Tião Viana (PT-AC), começar hoje a votação em plenário da proposta de emenda constitucional que estende até 2011 a cobrança do tributo, embora admita que o texto receberá emendas, o que fará com que retorne à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Dos Estados Unidos, o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), confirmou, por telefone, o acordo entre tucanos e DEM para obstruir a votação em plenário. ¿Vamos agir de acordo com o regimento, mas não vamos quebrar nenhum interstício¿, avisou Agripino, ressaltando que a oposição vai utilizar o máximo de tempo possível para retardar a votação do imposto do cheque.

Virgílio, em ação coordenada com o DEM, foi escolhido pelo presidente da CCJ, senador Marco Maciel (DEM-PE), para ser o relator do pedido de cassação do presidente licenciado na comissão. Imediatamente, o tucano anunciou que não entregará o seu relatório até amanhã, o que impedirá que a votação da manutenção ou perda de mandato ocorra na quinta.

¿Fui convidado a ser relator da matéria no final da manhã. Não tenho condições de apreciar essa matéria nessa pressa. É preciso fazer um relatório direito. Embora ele não seja baseado no mérito, vou falar sobre o mérito e tenho de fazer um texto de acordo com a ordem constitucional¿, justificou o líder do PSDB.

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