Título: Federação de empresários rejeita reforma de Chávez
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2007, Internacional, p. A22
Fedecâmaras diz que presidente busca perpetuar voz única no poder e transformar cidadãos democratas em ativistas de um socialismo escravizador
AP E AFP
A Fedecâmaras, principal federação de empresários da Venezuela, divulgou um comunicado na terça-feira repudiando a reforma constitucional impulsionada pelo presidente Hugo Chávez e pedindo a toda a sociedade que se oponha às mudanças propostas. O documento qualifica a reforma de ¿um ato ilícito, inválido e violador da institucionalidade republicana¿. ¿Essa proposta tem apenas dois grandes objetivos: facilitar a perpetuação no poder de uma vontade única, uma voz única e mudar nossa condição de cidadãos republicanos e democratas para ativistas de um socialismo escravizante.¿
O ministro da Economia, Rodrigo Cabezas, disse ontem que a posição da Fedecâmaras foi ¿subversiva¿ e ¿desestabilizadora¿. ¿Queremos alertar que esse documento da Fedecâmaras está fora da Constituição¿, disse. Cabezas afirmou que os empresários mostraram ter uma ¿posição profundamente antidemocrática¿ ao insinuar que não respeitarão o resultado do referendo. ¿O documento quer dizer que os senhores da Fedecâmaras anunciam que não reconhecerão a vitória do `sim¿ no referendo do dia 2?¿
Ele disse que a nota emitida traz de volta ¿a Fedecâmaras desestabilizadora de 2002¿, em referência ao golpe de Estado contra Chávez, em 11 de abril do mesmo ano - quando o então presidente da instituição, Pedro Carmona, assumiu a presidência da Venezuela por menos de 48 horas.
O ministro ainda afirmou que, caso os empresários estejam convencidos de que a reforma é prejudicial, eles deveriam sair às ruas para convencer a população. ¿Vão ao povo e dêem-lhes os argumentos¿, disse. ¿É provável que vocês sigam mentindo sobre o tema da propriedade privada, mas enquanto vocês nos combatem com mentiras, sabemos que ganharemos com a verdade.¿ O documento afirma que a reforma ¿elimina e condiciona o direito de ser proprietário, construtor e dono de seus próprios bens e destino¿.
Ontem, o presidente da federação, José Manuel González, insistiu que todo o empresariado fará o que for necessário para impedir a aprovação do projeto. A diretoria da instituição convocou um Conselho Nacional Extraordinário da Fedecâmaras para o dia 26 com o objetivo de decidir sobre a participação da federação no referendo.
O polêmico projeto de reforma de Chávez prevê diversas mudanças na Constituição de 1999 - entre elas, uma modificação que determina o fim do limite para reeleições do presidente e a criação de cinco novos tipos de propriedade privada: a social, pertencente ao povo e controlada pelo Estado; a coletiva, pertencente a grupos sociais ou comunitários, mas sob o controle do Estado; a mista, com participação do setor privado e do Estado, mas sob o controle deste; a pública, administrada pelo governo; e a privada, que poderá ser confiscada quando afetar os direitos de terceiros ou da sociedade.
MANIFESTAÇÃO
Centenas de estudantes partidários de Chávez fizeram ontem um protesto pacífico em Caracas em favor da reforma constitucional. Os universitários marcharam até a sede do Tribunal Supremo de Justiça, onde entregaram um documento de apoio à mudança da Carta.