Título: Meirelles vê Brasil menos dependente do cenário externo
Autor: Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2007, Economia, p. B11

Para presidente do BC, demanda doméstica tem peso forte no crescimento

ENVIADA ESPECIAL SANTIAGO

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que, se houver, recessão nos Estados Unidos, certamente afetará a economia mundial, que deve se desacelerar um pouco. "O Brasil, por outro lado, é um dos países que estão bem preparados para enfrentar esse tipo de cenário, na medida em que o nosso crescimento hoje é fortemente impulsionado pela demanda doméstica - demanda criada pelo aumento da renda, do emprego e do crédito - e, por causa disso, estamos um pouco menos dependentes do cenário externo do que muitos outros países e do que fomos no passado", declarou ao Estado. Meirelles está no Chile para participar de um encontro de presidentes de bancos centrais.

Além disso, acrescentou, "temos um nível confortável de reservas internacionais - um amortecedor importante em relação as mudanças no nível de aversão ao risco nos mercados internacionais; temos uma inflação e uma expectativa de inflação ancoradas na trajetória de metas; temos uma relação dívida pública/PIE cadente".

Para o presidente do BC, todos esses fatores deixam o País em condições "para enfrentar esse tipo de problema". Mas ele reconhece que, "evidentemente, uma desaceleração na economia mundial não é positiva para ninguém, mas não podemos fazer mais do que estarmos bem preparados para isso no sentido de que os efeitos no Brasil certamente serão, caso isso ocorra, amortecidos e menores para muitos outros países e incomparavelmente menores em relação ao passado".

Ainda em um cenário de recessão americana, indagado se os BRICs (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China) poderiam contrabalançar a Situação, Meirelles foi taxativo: ¿Não há dúvida nenhuma de que hoje a economia mundial é menos dependente da economia americana, mas os Estados Unidos ainda são um fator importante".

Apesar de todas as considerações sobre o assunto, Meirelles opinou que "é um pouco pré-maturo ficarmos. especulando qual será a real situação americana", porque "compete aos analistas discutirem isso". Segundo ele, "o que compete a nós é estarmos bem preparados, e estamos".

O presidente do BC não considera que a descoberta da reserva petrolífera de Tupi ajude a aumentar o rating do Brasil ou fazer com que o País receba o investment grade mais rápido. Para ele, "o rating do Brasil está melhorando em razão de todas as melhoras estruturais e fundamentais do País, e não de um se ponto especifico".

Sobre o encontro do qual participou como um dos conferencistas convidados pelo presidente do BC do Chile, Vittorio Corbo, Meirelles disse que a discussão foi centrada no regime de metas de inflação. "Um sumário das conclusões, conforme dito por um dos participantes é que o regime de metas de inflação tem, em alguns aspectos, similaridade com a democracia e com o casamento. Isto é, existem algumas dificuldades, mas não existe alternativa melhor.¿

Segundo ele, "o que tem se discutido é que o regime tem se mostrado mais eficiente para lidar com a estabilização das economias, com a reação aos choques e a diminuição das vulnerabilidades".

Meirelles e os demais participante do evento discutiram ainda "a reação dos diversos bancos centrais aos problemas de crédito e de liquidez dos diversos mercados". "Mencionamos a importância de que os bancos centrais trabalhem para preservar a estabilidade do sistema financeiro, não só para a preservação da estabilidade da economia, mas também para o regime de metas de inflação", disse o presidente do BC.