Título: Amorim denuncia complô de países ricos para dividir emergentes
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2007, Economia, p. B5

Chanceler usou reunião que discutiu Rodada Doha em Genebra para fazer denúncia e evitar que manobra ocorra

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, denunciou um plano dos países ricos para tentar dividir as economias emergentes nas negociações da Rodada Doha no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e usou reunião em Genebra ontem para tentar prevenir que tal manobra ocorra.

O Brasil revelou que a convocação do encontro entre os países em desenvolvimento foi uma espécie de alerta político de que esses governos não aceitarão uma atitude nessa direção vindo dos Estados Unidos e Europa. ¿Não há mais espaço para que os países ricos enganem os demais como ocorria no passado¿, alertou o ministro. Mas no encontro, países como México, Uruguai, Chile e Peru não enviaram seus ministros exatamente por não concordarem com a posição do Brasil.

Segundo o chanceler, o Itamaraty teria recebido indicações de que Bruxelas e Washington estariam preparando uma nova proposta para a Rodada sobre a abertura dos mercados emergentes para produtos industriais. Na prática, isso pressionaria os países em desenvolvimento e acabaria tirando a atenção do que o Brasil acredita ser o centro do processo: as negociações para a liberalização agrícola.

Nas negociações na OMC, os países ricos alertam que somente poderão fazer concessões no setor agrícola se receberem em troca novo acesso aos mercados dos países emergentes. Para o Brasil, a lógica é exatamente a contrária. ¿Os países ricos estão tentando se esconder e não dizer o que de fato vão fazer no setor agrícola¿, afirmou Amorim. ¿A mensagem da reunião foi a de que já sabemos que estão tentando uma manobra. Não vamos deixar isso ocorrer. Podem tentar dividir, mas a aliança entre os países emergentes está cada vez mais estratégica¿, garantiu.

Amorim espera que a reunião de ontem sirva para ¿dificultar¿ a manobra. ¿A mensagem que quisemos passar é de que tal comportamento seria um esforço fútil e em vão.¿

Para os países emergentes, o centro da Rodada precisa ser a liberalização agrícola. ¿Qualquer tentativa de mudar isso fracassará. A agricultura é a razão de ser da Rodada¿, afirmou Amorim. Para o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, qualquer concessão no setor industrial depende da agricultura.

A realidade, porém, é que os emergentes já estão divididos sobre o grau de abertura que estariam dispostos a fazer no setor industrial. De um lado estão Índia, Brasil, África do Sul, Argentina e Venezuela, com posição mais dura em termos de abertura industrial.

De outro, México, Chile, Equador, Tailândia, Peru, Costa Rica e outros aceitariam uma liberalização mais parecida ao que pedem os países ricos, como forma de convencê-los a aceitar uma abertura no setor agrícola. Amorim qualificou de ¿erro tático¿ desses países apresentar uma proposta mais favorável aos países ricos. ¿Todos têm o direito de ter sua posição. Mas isso aliviou a pressão sobre os ricos em abrirem sua agricultura. Foi um erro tático.¿