Título: 'Usiminas quer ser um jogador importante no mercado global'
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2007, Negocios, p. B10

Entrevista Rinaldo Campos Soares: presidente do grupo Usiminas Para Soares, ante a ameaça chinesa, o Brasil deveria adotar uma postura de proteção da indústria de base

O presidente do grupo Usiminas, Rinaldo Campos Soares, diz que os objetivos da empresa, pelo menos até 2015, estão bem definidos: manter a liderança no mercado nacional de aços planos, investir em produtos mais nobres para atender às novas exigências de indústrias como a automobilística e tornar-se um jogador importante do mercado global. Hoje, com uma produção anual de cerca de 9 milhões de toneladas de aço, o grupo ocupa a 32ª posição entre os maiores do mundo. O plano é chegar a 14,5 milhões de toneladas até 2015. Para isso, foram programados investimentos de US$ 8,4 bilhões, que incluem uma usina com capacidade para 3 milhões de toneladas de aço. Soares, que acumula também a presidência do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), criticou a tentativa de parte da indústria em ampliar a lista de produtos siderúrgicos desprotegidos. Disse ainda que, ante a ameaça chinesa, o Brasil deveria adotar uma postura de proteção da indústria de base.A seguir, os principais trechos da entrevista:

A nova usina de 3 milhões de toneladas da Usiminas, estimada em US$ 3 bilhões, ficará mesmo em Cubatão, ao lado da Cosipa?

A prioridade é a Cosipa (que pertence ao grupo Usiminas). Até o momento, o plano é colocá-la ali. Temos área disponível, temos um porto anexo. Pode-se fazer 3 milhões de toneladas sem qualquer interferência com a usina atual. Evidentemente, ainda precisamos terminar alguns projetos que estão sendo preparados, como a correia transportadora na serra (projeto da MRS Logística que levará minério de ferro por uma correia de Paranapiacaba até Cubatão).

O plano de expansão da Usiminas para 14,5 milhões de toneladas até 2015 se mantém, fechando um ciclo de ampliação de 5 milhões de toneladas?

Sim. Lançamos esse plano em 2005 porque temos duas aspirações. A primeira é continuar a ser o líder absoluto no mercado interno de aços planos. Hoje temos 52%, e precisamos nos expandir para preservar este mercado que está crescendo. Ao mesmo tempo, precisamos investir também em produtos mais nobres. Por exemplo: no setor automotivo temos 60% do mercado, do eletroeletrônico temos 80%, do mercado de tubos de grande diâmetro possuímos quase 100%. São segmentos que exigem aços de melhores características e mais nobres. A segunda aspiração é sermos um jogador importante no mercado internacional.

Nesse caso, o plano é ter unidade lá fora?

Além dos 2,2 milhões de toneladas de aço bruto que vamos ter a mais em na usina de Ipatinga (MG), vamos ter mais 3 milhões de toneladas que serão destinados ao mercado internacional. Entretanto, a idéia é agregar valor lá fora. Temos várias opções para isso. Pode ser na região do Nafta, na Europa ou no Sudeste Asiático. O mercado mais favorável para isso é o mercado dos Estados Unidos, do Nafta. Em segundo plano, o europeu. Vamos produzir semi-elaborados no Brasil, onde temos vantagens competitivas, e levar o aço para agregar valor lá fora. O objetivo é encontrar uma alternativa para agregar valor, seja com uma alianças, com a compra de ativos ou instalação de uma laminadora. É algo que temos dois ou três anos para definir e vamos fazer a opção com tranqüilidade.

A Usiminas não pensa em avançar para além dos 14,5 milhões de toneladas?

Não, aí é muito. Se olharmos a tendência de crescimento do Brasil, com esse crescimento de 5 milhões de toneladas atenderemos o mercado brasileiro até 2015 a 2020. Claro, não levamos em consideração que a indústria automotiva possa chegar a 5 milhões de veículos por ano. Se o setor automobilístico lançar um plano de 5 milhões de unidades, como se está falando, teremos não de ampliar a produção de aço, mas fazer linhas periféricas para atender a esse mercado. É importante pensar o seguinte: os 3 milhões de toneladas para exportação podem ser redirecionados para o mercado local, se ele crescer muito.

Os chineses saíram de uma importação líquida de 30 milhões de toneladas para uma exportação líquida de 55 milhões a 60 milhões de toneladas este ano. A China já preocupa a indústria siderúrgica brasileira?

Sim. É fundamental que estejamos preparados para enfrentar uma concorrência dessas. A melhor coisa é trabalhar com produtividade e competência. Mas tem um detalhe: a indústria de base do mundo inteiro tem proteção. O Brasil precisa se prepara melhor para proteger a indústria de base.

Em 2005, a pressão da indústria automobilística levou o governo a reduzir para 0% a alíquota de 15 produtos siderúrgicos. Há uma pressão do setovr de máquinas para que essa lista seja ampliada. O IBS tenta reverter isso no governo?

Estamos trabalhando para que o governo retire essa redução de imposto. O problema todo é que grande parte dos nossos custos são em real. Os custos da mão-de-obra e da energia estão aumentando. O petróleo está aumentando. Como o real está valorizado, à medida que o dólar cai, o sujeito lá fora diz: `Ah, o custo aí está mais caro, lá fora está mais barato¿. Ele esquece que nossos custos em reais são maiores. Aí a indústria afirma que precisa tirar a proteção para buscar aço. Mas isso é um problema. Não se pode prejudicar a indústria de base.

Mas o que pede o IBS?

O IBS trabalha no sentido de elevação das alíquotas para proteção da indústria, que são baixas, são de 12%. Outros segmentos têm uma proteção de 25%, 30%. E não precisa derrubar as alíquotas. Quem exporta pode importar o correspondente sem pagar a tarifa, isso já é previsto. Se a China começar a ampliar as exportações desordenadamente, tarifas e barreiras de proteção começarão a pipocar em todo o mundo - como já se vê nos Estados Unidos e na Europa em relação ao aço inoxidável.