Título: Renan acerta com Planalto renúncia à presidência
Autor: Nogueira, Rui; Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/11/2007, Nacional, p. A7

Na tentativa de obter votos para prorrogar a CPMF, governo articula salvação do mandato do senador

Com a participação ativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Palácio do Planalto fechou na quarta-feira um acordo para criar o que considera ser o clima político ideal para salvar o mandato do aliado e ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e, ao mesmo tempo, aprovar a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. Pelo acordo, Renan considera ¿fato consumado¿ a renúncia à presidência do Senado, o PMDB dá o maior número possível de votos para salvar o mandato do ex-presidente do Senado e ajudar na prorrogação da CPMF, e a bancada do PT, com 12 senadores, aproveita que o voto é secreto para também descarregar a maioria dos votos a favor de Renan.

O acordo foi fechado em uma reunião realizada no fim da tarde de quarta-feira, no Planalto - precedida de várias reuniões do próprio Renan com o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), que tem sido o elo principal da negociação com Lula e assessores presidenciais. Participaram diretamente das articulações, além de Viana e do próprio Lula, o ministro Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais) e o senador Edison Lobão (PMDB-MA).

Além do interesse do Planalto em sua absolvição, por causa da CPMF, Renan tem a expectativa de obter o voto da maioria dos senadores por avaliar que a acusação de ter saciedade fantasma com o usineiro João Lyra em duas emissoras de rádio e um jornal de Alagoas também é uma ameaça a outros colegas - muitos são donos de veículos de comunicação em associações com prepostos, laranjas e afins.

Na avaliação do Planalto e de Renan, ¿já está de bom tamanho o nível de solidariedade¿ para a absolvição do ex-presidente do Senado. Na outra ponta da negociação política, porém, o governo demonstra empenho especial na salvação do senador alagoano porque ¿o nível de solidariedade em cima da CPMF não é bom¿. Um assessor de Lula definiu assim a situação para a votação da contribuição: ¿Não podemos arriscar nada, mas nada mesmo.¿

A idéia é ¿replicar¿ no plenário do Senado, nesta segunda votação de pedido de cassação de Renan, o procedimento adotado no plenário da Câmara em 2005, quando foi montada uma verdadeira linha de montagem de absolvições dos deputados mensaleiros e tudo se resumiu à cassação do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT) e de Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE). O novo pedido de cassação de Renan foi aprovado no Conselho de Ética por 11 votos a 3, na quarta-feira, depois da leitura do relatório do senador Jefferson Péres (PDT-AM). Péres viu indícios claros de quebra de decoro parlamentar na sociedade de Renan com Lyra.

Duas semanas atrás, Renan votou contra o fechamento de questão em favor da CPMF na reunião da bancada do PMDB, para dar respaldo ao senador Pedro Simon (PMDB-RS) e tentar seu apoio no plenário. Ele pediu abertamente a Lula que interfira em seu favor e não deixe a bancada do PT ¿solta¿. A maioria dos petistas tende a salvar Renan, mas exige garantia de que ele não volte mesmo à presidência.

SENHA

Para Lula, a senha foi dada pelo próprio. Segundo o senador, Renan mandou dizer que esse assunto era ¿fato consumado¿.