Título: Servidores engrossam classe média
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2007, Economia, p. B3
Com salários médios de R$ 10 mil, Brasília tem a maior renda do País
A região metropolitana de Brasília assemelha-se às outras em termos de quantidade de pobres. A maioria vive nas cidades satélites e municípios do entorno, numa área que se estende do Distrito Federal para Goiás (a maioria) e Minas Gerais. A diferença é que em Brasília existe uma ampla classe média alta, composta, sobretudo, por um grande número de funcionários públicos com salários que podem atingir uma média de pouco mais de R$ 10 mil nos Poderes Legislativo e Judiciário.
¿É provável que o grupo dos 0,1% mais ricos de São Paulo ganhe muito mais que o extrato equivalente em Brasília, se levarmos em conta todos aqueles industriais paulistas com imensas fortunas¿, observa o economista Serguei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Soares acrescenta que, por causa daquela classe média alta ligada ao setor público, ¿os 20% a 30% mais ricos em Brasília ganham mais que seus equivalentes em Estados ricos, como São Paulo ou Santa Catarina¿.
A região metropolitana de Brasília, na verdade, tem a maior renda familiar per capita do Brasil. Na Pnad de 2006, ficou em R$ 1.119,02, o que supera em impressionantes 30% a segunda maior, a da região metropolitana de São Paulo, com R$ 858,37. Essa não é uma característica recente do Distrito Federal. Em 1995 (em valores atualizados), a renda per capita do DF era de R$ 948,62, ou 8% maior que a de São Paulo, que estava igualmente no segundo posto.
O crescimento da renda desde 1995, portanto, foi bem maior no Distrito Federal do que em São Paulo, o que fez com que a distância entre o primeiro e o segundo lugar aumentasse. Com esse resultado tão expressivo em termos de renda, Brasília acompanhou o resto do País na queda da pobreza e da indigência. No primeiro caso, a pobreza no DF e entorno caiu de 17,65% da população em 1995 para 16,11% em 2006. Na indigência, a redução entre os dois anos foi de 4,7% para 4,37%.
Esses resultados são piores que os do País como um todo, mas acompanham aproximadamente o que ocorreu no conjunto das principais regiões metropolitanas. O problema é que, com 18% de aumento da sua renda familiar per capita entre 1995 e 2006, muito acima do 0,7% de crescimento do conjunto das regiões metropolitanas, era de se esperar que a redução da pobreza e da indigência no DF fosse muito maior.
O que impediu que a intensidade do crescimento da renda chegasse aos mais pobres foi justamente a desigualdade, que não só permaneceu alta, como cresceu no período.