Título: Brasil vira plataforma para grupos coreanos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2007, Economia, p. B20
Empresas preparam investida no País de olho no mercado da AL
A rede estatal de televisão da Coréia do Sul KBS aguarda a licitação de licenças para a telefonia móvel de terceira geração (3G), programada para o próximo dia 18 de dezembro, para brigar pelo mercado brasileiro de TV móvel. Sua tecnologia DMB deverá concorrer com os modelos do Japão, dos Estados Unidos e da Europa.
Hoje, a tecnologia é usada por 2,2 milhões de coreanos, aos quais permite o acesso a programas de televisão e serviços de informação sobre o trânsito por meio especialmente de telefones celulares e de aparelhos instalados em automóveis. O custo mensal é de apenas 13 mil won (o equivalente a R$ 25). Assim como a KBS, grandes corporações privadas coreanas preparam suas investidas no Brasil, atentas à extensão do mercado doméstico brasileiro e às possibilidades de exportação para a América Latina.
A CJ (Cheil Jedang), companhia que instalou uma fábrica de aminoácidos para a alimentação animal em Piracicaba (SP) em meados deste ano, avalia novos investimentos no setor farmacêutico. A gigante Hyundai mantém em suspenso sua escolha entre o México ou o Brasil para a instalação de uma fábrica com capacidade para produção de 100 mil automóveis ao ano. Além disso, um consórcio de empresas coreanas está em fase de composição para concorrer à licitação da construção do trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, uma obra estimada em cerca de US$ 10 bilhões. A disposição das empresas coreanas foi reiterada diretamente pelo presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun , ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Nova York, em setembro.
Esse interesse de grupos coreanos no Brasil mostra as diferenças nas relações comerciais entre países com Produto Interno Bruto (PIB) similar - em 2005, o da Coréia era de US$ 787,6 bilhões, enquanto o do Brasil chegava a US$ 796,1 bilhões -, mas com um abismo de diferenças econômico-sociais. A desenvolvida Coréia do Sul é hoje investidora líquida no Brasil, com um estoque de US$ 1 bilhão injetado em 19 setores, e se mostra completamente fechada à importação de produtos brasileiros com mais valor agregado. O comércio bilateral entre janeiro e setembro deste ano chegou a US$ 3,918 bilhões, com déficit de US$ 959,2 milhões para o Brasil, claramente fornecedor de commodities.
Mas o Brasil já mostrou disposição de mudar esse quadro. Recentemente, o governo brasileiro definiu que a política externa brasileira vai se voltar para a Ásia em 2008. A decisão tomada pelo Ministério das Relações Exteriores, com o devido aval do Palácio do Planalto, atende à ambição do governo Lula de ampliar o comércio e o investimento entre o Brasil e as economias dinâmicas e em ascensão da Ásia, como a Coréia, e de reforçar as relações diretas com essas nações.
DISCUSSÕES ESTAGNADAS
Apesar do otimismo do governo brasileiro em relação à possível negociação de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Coréia, o embaixador Han Byung-kil, diretor do Escritório para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores e Comércio, afirmou que as discussões estão ¿estagnadas¿. A razão está no mesmo impedimento a acordos entre o Mercosul e outros parceiros desenvolvidos - a alta competitividade do bloco na área do agronegócio e o caráter protecionista nesse setor do outro lado. Trata-se do tópico responsável, em boa medida, pelo déficit no comércio Brasil-Coréia.
¿O Brasil tem vocação para ser supridor mundial de produtos agropecuários. Mas, falando francamente, os empresários brasileiros têm de ser mais agressivos e pressionar pela abertura de mercados a seus produtos, especialmente na Coréia¿, declarou Han ao Estado. ¿Deveriam seguir o exemplo dos exportadores chilenos de uvas.¿
O puxão de orelhas foi um tanto severo. Há 16 anos, o governo e empresários brasileiros tentam abrir o mercado coreano à importação de carnes bovina e suína. A Coréia exige do país fornecedor o status de livre da febre aftosa sem vacinação por seis anos em todo o seu território, e mostra-se capaz de devolver um carregamento inteiro por qualquer razão sem relevância.
O tema passou a ser tratado pelo Comitê de Agricultura Brasil-Coréia, que se reunirá pela segunda vez em 2008. O Itamaraty tentou antecipar o encontro, mas a resposta de Seul foi negativa.
Os casos de sucesso mostram que a receita é a persistência. A importação de frango do Brasil, hoje maior fornecedor da Coréia, foi aberta só em 2006, depois de 12 anos de negociação. A abertura desse mercado para as frutas tropicais brasileiras está na mesma situação de espera.
A repórter viajou a convite da embaixada da Coréia do Sul