Título: G-20 avalia que crise do crédito está longe do fim
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2007, Economia, p. B23

Autoridades financeiras analisam incertezas na economia mundial

A avaliação de que o impacto da crise no setor imobiliário dos Estados Unidos sobre os mercados financeiros vai durar mais do era previsto dominou a abertura, ontem, da Reunião Anual dos Ministros das Finanças e Governadores de Bancos Centrais do G-20, grupo que reúne os principais países ricos e em desenvolvimento.

Além disso, as discussões concentraram-se no amplo leque de incertezas que paira sobre a economia mundial: o ritmo de desaceleração da economia americana, a desvalorização do dólar, a lenta valorização da moeda chinesa e a escalada dos preços do petróleo e de outras commodities.

A imprensa foi mantida à distância do local do evento, o Western Cape Hotel and Spa, um luxuoso resort costeiro localizado em Kleinmond, a cerca de cem quilômetros da Cidade do Cabo. Mas, segundo alguns participantes, ficou clara a preocupação com os problemas nascidos com as hipotecas subprime - de maior risco - nos Estados Unidos. ¿A conclusão foi que os efeitos desse problema sobre as instituições financeiras e o mercado em geral vão durar mais do que pensávamos¿, disse ao Estado uma autoridade de um país europeu. ¿É possível que outros setores do mercado de crédito que ficaram ilesos até agora comecem a apresentar problemas, prolongando as incertezas.¿

O G-20 foi criado em 1999 com o objetivo de estabelecer um fórum de discussão sobre os temas-chave da economia mundial entre os países ricos do G-7 e as principais nações emergentes.

Além do Brasil, compõem o grupo a Argentina, Austrália, o Canadá, a China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, o Japão, México, a Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coréia do Sul, Turquia, o Reino Unido e os Estados Unidos.

CRESCIMENTO ¿DESIGUAL¿

Os debates no primeiro dia do evento sobre o ritmo de atividade da economia dos Estados Unidos também foram caracterizados por incertezas. O atual perfil da expansão americana foi avaliado como ¿desigual¿. Ou seja, de um lado está sendo desacelerada pela crise no setor imobiliário, mas, ao mesmo tempo, é impulsionada pelas exportações, que ficaram mais baratas com a desvalorização do dólar.

O termo ¿recessão¿ não foi mencionado, mas predominou a tese de que os Estados Unidos estão destinados a passar por um período de queda na atividade econômica nos próximos meses. O forte ritmo de crescimento dos grandes países emergentes, como China, Índia e Brasil, foi considerado entre os participantes como contrapeso relevante na economia mundial para uma queda mais acentuada na expansão do Produto Interno Bruto (PIB) americano.

Os atuais desequilíbrios cambiais foram um foco de discórdia entre os participantes. Ao longo da semana passada, declarações recentes do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, do presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, e do governador do Banco da Inglaterra, Mervyn King, sinalizaram um aumento coordenado da pressão para que o governo chinês acelere o ritmo de valorização de sua moeda.

King disse que a China está alimentando ¿grandes tensões cambiais¿. Trichet alertou que o gigante asiático tem de assumir ¿as suas responsabilidades globais¿. Durante a reunião ontem, eles voltaram a defender ¿a adoção de regimes cambiais livres, sem artificialismos¿. O recado foi endereçado ao governador do Banco Popular da China, Zhou Xiaochuan, também presente no encontro.

Mas a desvalorização do dólar ante o euro também causa atritos. Preocupados com a elevação dos custos de suas exportações, os europeus buscaram garantias de Paulson que essa tendência será revertida num momento não muito distante no futuro. Ao longo da semana passada, Paulson reiterou em diversas ocasiões que crê na recuperação do dólar no médio prazo.

A alta dos preços do petróleo e de outras commodities, cujo impacto inflacionário tem causado crescentes dores de cabeça em vários governadores de bancos centrais presentes no encontro, foi outro tema abordado durante o encontro.

O ministro das Finanças do Reino Unido, Alistair Darling, pediu ao ministro da Economia da Arábia Saudita, Abdulaziz Al-Assaf, que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) aumente a oferta de petróleo para evitar uma escalada maior nos preços.

A agenda oficial do evento também prevê discussões sobre a ¿reforma das instituições Bretton Woods¿. Será a primeira vez que os novos chefes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial - Dominique Strauss-Kahn e Robert Zoellick, respectivamente - se reunirão com os representantes do G-20.

BRASIL

No próximo ano, a reunião anual do G-20 será realizada na Costa do Sauípe, no litoral baiano. Por isso, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, juntamente com o ministro das Finanças da África do Sul, Trevor Manuel, apresentará hoje à imprensa o comunicado final da reunião. O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, também participará do encerramento do evento

Segunda-feira, Meirelles participará da reunião bimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), na Cidade do Cabo.