Título: Comissão da Câmara aprova ingresso da Venezuela no Mercosul
Autor: Denise Madueño e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2007, Nacional, p. A4

Adesão passa com ampla margem de votos, 44 a 17, mas resistência da oposição no Senado será maior

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou ontem a adesão da Venezuela ao Mercosul. O placar foi amplamente favorável ao governo: 44 votos a favor e 17 contrários. A proposta agora vai ao plenário da Câmara e, depois, ao Senado, onde deve enfrentar resistência maior - a começar pela Comissão de Relações Exteriores, presidida pelo oposicionista Heráclito Fortes (DEM-PI).

¿Muita gente da base do governo dormiu ontem (anteontem) chateada e reclamando, e acordou hoje (ontem) satisfeita. A mão forte do governo esteve presente¿, acusou o deputado ACM Neto (DEM-BA), que até a véspera contava com várias dissidências de deputados da base governista, principalmente do PMDB. ¿Se não tivesse havido esse envolvimento muito forte, o resultado seria outro.¿

Os partidos aliados ao Palácio do Planalto votaram unidos a favor da proposta. O PMDB ameaçou ficar contra e até levou o governo a pensar em adiar a votação, mas acabou convencido a apoiar a medida. Considerado independente, Nelson Trad (PMDB-MS) foi o único voto contrário da bancada.

O PSOL se uniu à base governista. O PSDB, o DEM e o PPS chegaram à reunião já com a decisão de votar contra a entrada da Venezuela no Mercosul.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, atuou por telefone. Procurou os líderes aliados e pediu que se empenhassem pessoalmente para conseguir os votos favoráveis à proposta. Coube a eles, durante a sessão, repetir por várias vezes números sobre as exportações brasileiras. ¿A Venezuela é o terceiro parceiro comercial do Brasil¿, ressaltou o líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE).

Além disso, os líderes governistas fizeram corpo-a-corpo com os integrantes da CCJ. Contavam os votos e a presença de suas bancadas para garantir que a proposta fosse aprovada ontem. Durante cerca de cinco horas, as discussões ficaram em torno do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e da existência ou não de democracia no país. Até aliados do Planalto que defenderam a aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul criticaram Chávez.

JUDAS

¿O Chávez é horroroso. Se pudéssemos fazer um boneco dele, faríamos fila para malhá-lo no dia de Judas. Chávez é uma figura horripilante para a América Latina, mas precisamos da parceria comercial com a Venezuela¿, justificou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), ao pedir a aprovação da proposta e argumentar que a Câmara não devia entrar na questão política dos outros países.

¿Não comungo das idéias de Chávez. Não gostaria de conviver no País com alguém que tenha essas práticas políticas, mas estamos falando de um importante parceiro econômico. Hugo Chávez passa, mas a Venezuela fica¿, afirmou o líder do PR, Luciano Castro (RR). Em nome do PMDB, o vice-líder Eduardo Cunha (RJ) anunciou que o partido votaria a favor, mas ressaltou ¿a discordância com a atuação do presidente Hugo Chávez, com seus métodos e suas falácias¿.

Os deputados de oposição mantiveram o discurso de que não há democracia na Venezuela, o que impediria sua entrada no Mercosul, de acordo com o Tratado de Ushuaia, que estabeleceu a cláusula democrática. Insistiram também na idéia de que Chávez tem um projeto geopolítico com interesse de mudar a configuração do Mercosul.

Na defesa da entrada da Venezuela no bloco, governistas defenderam o pluralismo nas relações do Brasil com os outros países e a impossibilidade de julgar decisões políticas de outros governos. ¿Não podemos nos transformar em um tribunal arrogante e autoritário¿, disse Flávio Dino (PC do B-MA).

SENADO

No Senado, o cenário para aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul é menos previsível que na Câmara. Em reunião na terça, a Executiva Nacional do PSDB decidiu votar contra a entrada do país no bloco. Nota divulgada pelo partido afirma que a posição contrária à medida leva em consideração as condições políticas da Venezuela e o fato de não ter atendido aos requisitos técnicos preestabelecidos para a admissão de novos membros no mercado comum. O PSDB avaliou ainda que o comportamento de Chávez ¿é uma ameaça à democracia em toda a América do Sul¿. Já o líder do DEM, senador José Agripino (RN), previu que também seus colegas devem se manifestar contra o ingresso da Venezuela no Mercosul.