Título: Lula alfineta FHC por receber em conferências
Autor: Monteiro, Tania
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2007, Nacional, p. A6

Quatro dias depois do ataque do tucano, ele diz que presidentes só gostam de contato com público quando deixam cargo, para `ganhar dinheiro¿

Sem citar nomes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma crítica genérica aos presidentes da República que não gostam de ir a conferências quando estão no cargo. ¿Só antes ou depois, para ganhar dinheiro¿, disse. ¿Participar de conferência para ouvir o que alguns acham que é desaforo, quando na verdade é desabafo, assistir conferência para ouvir gente falar mal do governo, quando o bom é ouvir falar bem, não é o normal.¿

A declaração de Lula foi interpretada como uma crítica velada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, desde que deixou o cargo, profere, a convite, muitos internacionais, palestras remuneradas. A reação de Lula ocorre quatro dias depois de o ex-presidente Fernando Henrique, em discurso na convenção tucana, afirmar que o PSDB é partido de pessoas ¿que estudam e trabalham¿, declaração que teria Lula como alvo.

Criticado pelo excesso de conselhos que criou, o presidente Lula afirmou que outros governantes que vierem depois dele não vão conseguir dissolvê-los, argumentando que se tornaram palcos de discussões e de apresentação de reivindicações da sociedade e se fortaleceram porque seus integrantes são muito participativos.

¿Pode entrar quem quiser de governante neste país que não consegue deixar mais de fazer uma conferência de saúde por exemplo. Vai ser criticado até internacionalmente¿, desafiou Lula, dizendo que essas conferências continuarão a existir e a pressioná-los.

Em discurso de improviso, na posse do novo presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Renato Maluf, Lula fez uma cobrança ao ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, sobre a presença dos integrantes do Consea na solenidade. Dos 19 ministros que integram o conselho, apenas Patrus e Guilheme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, estavam presentes.

¿Eu pedi ao Patrus e quero saber a lista das pessoas do governo que estão no Consea e não comparecem. Não é possível que ministro não venha, nem o secretário-executivo, e que cada vez apareça uma pessoa diferente. Isso não funciona¿, disse.

O presidente aproveitou para fazer uma comparação futebolística: ¿Parece o Corinthians. É só ver como está o time, que não tem coordenação, que não consegue funcionar. Não tem time que consiga ganhar assim¿, reclamou.

Lula comemorou os avanços na economia: ¿Não estamos mais nos tempos de vacas magras¿. Afirmou que o momento agora é de ¿consertar as coisas¿, referindo-se, por exemplo, à importância dos projetos sociais do governo, como o Bolsa-Família. Ele rechaçou as críticas de que o programa não tem porta de saída. Para ele, a porta de saída desses programas sociais vem com o crescimento econômico, com mais emprego e distribuição de renda. Lembrou que o Bolsa-Família recebeu muitas críticas quando foi criado, sendo chamado de assistencialista e proselitista. ¿E freqüentemente perguntavam pela porta de saída: as pessoas não tinham nem entrada. Como é que podiam sair?¿, indagou. Acrescentou que ¿não tem pressa¿ para suspender os benefícios. ¿Quando se planta uma coisinha, um dia ela vai crescer e vai aparecer e o que estamos plantando é muito forte.¿

Ele comentou que as mudanças têm ritmo mais lento do que as pessoas esperam e que o trabalho do governo é medido pelo mandato. ¿O importante é a gente construir organizações que perpassem os mandatos¿, ressaltou.