Título: Concentração na petroquímica
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2007, Notas e Informações, p. A3

Dominado por grupos gigantes em todo o mundo, também no Brasil o setor petroquímico tende a concentrar-se e a ficar sob o controle de poucas empresas. Mais dois passos para a consolidação do setor estão previstos para esta sexta-feira, com a compra da Suzano Petroquímica pela Petrobrás, e na segunda, quando será anunciada a junção de ativos da Unipar com os da Suzano para a formação da Companhia Petroquímica do Sudeste. Nesta operação, como noutras de grande alcance, a estatal Petrobrás tem operado não só como investidora e como articuladora da formação de grupos poderosos, mas também como condutora de uma política de reestruturação setorial. Nem todos estão satisfeitos com essa concentração de capitais e de poder, e pelo menos um empresário, Boris Gorentzvaig, sócio da Petroquímica Triunfo, reage criticamente à atuação da estatal e cobra uma explicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Gorentzvaig, o governo decidiu há tempos deixar apenas duas empresas nacionais privadas no mercado de polietileno e polipropileno, matérias-primas de grande importância. Ele atribui essa informação ao executivo José de Lima Neto, presidente da Petroquisa, subsidiária da Petrobrás. Uma delas, de acordo com Gorentzvaig, é a maior companhia petroquímica latino-americana, a Braskem, do Grupo Odebrecht, atuante no pólo nordestino e com presença no Sul. A outra, conclui, só pode ser a Unipar, pois a Suzano foi comprada pela Petrobrás. A própria Petroquisa, ao assumir o controle da Triunfo, deixou Gorentzvaig em posição secundária no grupo empresarial por ele criado nos anos 70, quando o governo do presidente Ernesto Geisel tentou criar uma petroquímica baseada na participação de capitais do setor privado nacional, do Estado e de grupos estrangeiros.

A reestruturação em curso no Brasil muda amplamente esse quadro, unindo capitais privados e promovendo uma redistribuição radical de poder. Uma empresa privada, a Braskem, do Grupo Odebrecht, fica em situação muito especial, descrita por Boris Gorentzvaig como um ¿monopólio privado¿.

Dois pontos, nesse processo, chamam a atenção. Um deles é o sentido estratégico da concentração. Esse aspecto, pelo menos, é bastante claro. Tenta-se adotar no Brasil o modelo dominante no mercado global, com poucas empresas dotadas de grande escala e de grande poder de competição. O segundo ponto é a questão da responsabilidade por essa reestruturação. É preciso esclarecer, segundo o empresário, se esse processo, no caso brasileiro, resulta de uma política industrial e, se isso for verdade, quem é o responsável pela formulação e pela execução da estratégia.

A indagação é plenamente justificável. O presidente Lula precisa dizer, segundo o empresário, se o governo ordenou a criação de um ¿monopólio privado¿ com dinheiro público. ¿A Petrobrás é uma competidora nesse mercado. Ela não pode fazer política industrial¿, argumenta Gorentzvaig.

O presidente da Petroquisa, Lima Neto, nega haver feito a declaração mencionada pelo empresário. Nega também qualquer favorecimento à Braskem e atribui a ação da Petrobrás, na reestruturação do mercado, a uma visão empresarial, ¿a mesma de todos os grandes players¿. Segundo essa visão, o setor petroquímico brasileiro, tal como ainda está organizado, não tem condições de competir globalmente. O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, também nega haver recebido qualquer benefício da Petroquisa e atribui a reação de Gorentzvaig a uma ¿teoria conspiratória¿ sem base nos fatos.

É difícil decidir quem tem razão nessa controvérsia. Mas têm sentido as perguntas formuladas por Boris Gorentzvaig, e o governo - que ele acusa de favorecer o Grupo Odebrecht - deve um esclarecimento à sociedade. O presidente da República - ou alguém por ele designado - deve responder se há uma política oficial de reestruturação do setor petroquímico e se, nesse caso, a Petrobrás é a executora de uma estratégia oficial. Se a resposta for negativa, então restará a responsabilidade da Petrobrás como empresa líder de um processo de concentração. Nesse caso, os órgãos de supervisão do mercado e de defesa da concorrência, como a Secretaria de Defesa Econômica e o Cade, não teriam algo para dizer sobre o assunto?

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