Título: Para Lula, queda da CPMF seria 'estupidez'
Autor: Rodrigues, Alexandre; Tosta Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2007, Nacional, p. A6

Presidente volta a provocar DEM, que é contrário à prorrogação do imposto, e questiona representatividade do partido, ¿que não tem nada a perder¿

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que será uma ¿estupidez¿ dos senadores caso imponham uma derrota ao governo na votação da emenda que prorroga a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. Ele voltou a criticar abertamente o DEM, questionando a representatividade do partido no País. Para Lula, sem administrar Estados, o antigo PFL tenta influenciar outras legendas porque ¿não tem nada a perder¿.

Lula disse que o único governador do DEM, José Roberto Arruda (Distrito Federal), apóia o governo e cobrou responsabilidade do PSDB, que administra seis Estados. Ele se mostrou confiante na prorrogação do imposto do cheque, mas advertiu: ¿Se fizerem estupidez, o Brasil pagará o preço.¿

¿Temos 26 governadores que querem a CPMF. No PSDB, que tem governos em Estados importantes como São Paulo, os governadores também querem a CPMF. Não podem os partidos políticos ficarem reféns do discurso de um partido como o PFL, que não tem nada a perder¿, disse Lula, insistindo em referir-se à antiga sigla do DEM. ¿Estou tranqüilo com relação à aprovação da CPMF por uma questão de responsabilidade. Nem o Estado, nem o município, nem o governo federal podem prescindir de R$ 40 bilhões. Agora, se faltar bom senso em alguns senadores, estou convencido de que quem vai ter prejuízo não é nem o governador, nem o presidente da República. É o povo mais pobre deste país.¿

Na tentativa de sensibilizar os adversários da prorrogação, ele acrescentou que boa parte dos recursos da CPMF é usada em aposentadorias, no programa Bolsa-Família e na saúde. Ele afirmou que lançará na quarta-feira um plano de investimentos de R$ 24 milhões nesse setor, o chamado PAC da saúde - que empresta a sigla do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para dar um exemplo dos interesses dos governadores envolvidos na questão, o presidente disse que o Rio arrecadou R$ 3 bilhões para a CPMF em 2006 e teve R$ 2,5 bilhões de volta.

Mais tarde, em cerimônia de assinatura de contratos para a construção de navios em estaleiros fluminenses, Lula recebeu o apoio do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). ¿O Brasil não pode se dar ao luxo de não aprovar um imposto que garante R$ 35 bilhões¿, disse Cabral, que fez um apelo aos ex-colegas senadores para a aprovação da CPMF. ¿Não podemos permitir que a soberba, a inveja e a mesquinhez de alguns possa atrapalhar o caminho do povo brasileiro¿, insistiu Lula.

NIEMEYER

O presidente esteve ontem no escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, que completa 100 anos no dia 15. Lula incluiu a visita ao arquiteto na agenda depois de iniciar as obras no Cantagalo porque Niemeyer não pôde ir à cerimônia de aniversário do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) na noite anterior. Na ocasião, Niemeyer seria homenageado com a Ordem do Mérito Cultural. ¿Quando a montanha não vem a Maomé, os Maomés vão à montanha amanhã¿, prometera na véspera.

Lula, que passou a noite no Hotel Glória, levou a comenda ao arquiteto pessoalmente. Os dois ficaram reunidos por cerca de 20 minutos. Na conversa, comentou que reformará o Palácio do Planalto. ¿Vou restaurar antes que pegue fogo.¿ E afirmou que vai instituir o Ano Niemeyer em 2008 e declarou ter o arquiteto como sua ¿inspiração¿.