Título: R$ 10 bi dão nova cara à petroquímica
Autor: Brandão Jr, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2007, Vida&, p. B12

Petrobrás, Braskem e Unipar surgem como líderes na petroquímica ao final de três negociações bilionárias concluídas ontem

Depois de uma maratona de negociações, a Petrobrás anunciou ontem o fechamento simultâneo de três negócios que, em movimentação financeira e troca de ativos, somam mais de R$ 10 bilhões. Os acordos envolveram Braskem, Suzano Petroquímica e Unipar e redefinem o setor petroquímico brasileiro.

Antes disperso em várias empresas, o setor agora será comandado por dois grandes grupos: Braskem e Unipar. O peso dos dois, porém, é bastante distinto. O grupo controlado pela Unipar nasce com receita de R$ 6,1 bilhões, enquanto o da Braskem é mais que o triplo, R$ 16,2 bilhões.

A Petrobrás participa como minoritária no capital dos dois concorrentes. Tem 25% do Braskem e 40% do Unipar. Os negócios serão ainda avaliados pelo Cade, mas o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, afirma que não vê conflito de interesse nas participações.

¿A tendência é as duas empresas competirem e crescerem. A Petrobrás é minoritária e não interfere nas decisões concorrenciais¿, disse. Para ele, a estatal saiu de ¿uma situação de sócia financeira para uma posição mais ativa em petroquímica¿.

Ele frisou que foram acertados, nos acordos de acionistas, direitos especiais para a estatal. O presidente da Petroquisa, braço petroquímico da Petrobrás, José Lima de Andrade Neto, disse que a estatal poderá vetar investimentos fora do setor, medidas que levem à diluição do capital minoritário e vendas de ativos, como a PQU.

A estatal optou pela divulgação conjunta da conclusão dos três acordos para reforçar a tese de que o governo não pretende reestatizar a petroquímica, da qual começou a sair nos anos 90.

O processo de compra da Suzano, anunciado em agosto, pegou de surpresa a Braskem, que havia participado, cinco meses antes, com a Petrobrás, da compra da Ipiranga.

Se a Braskem - que àquela altura havia incorporado o papel de parceira petroquímica da Petrobrás - recebeu com apreensão o negócio, a Unipar, sócia da Suzano, teve reação mais violenta e chegou a apresentar um documento à estatal cobrando maior participação da Unipar no setor.

Houve ainda pressão extra sobre a Petrobrás. O prazo para a conclusão da compra da Suzano encerrava-se ontem. Caso fechasse apenas esse acordo no prazo, a estatal manteria uma posição de controlador na petroquímica, que a deixaria vulnerável no Cade e passível de contestação de outras empresas do setor.

O negócio tinha de ser assinado simultaneamente para que a Petrobrás cedesse a posição de controladora para a Unipar e não tivesse problemas com o Cade.

E assim foi: os três foram subscritos ontem, entre 9 e 11 horas, apenas meia hora antes da primeira coletiva para a divulgação do negócio. A compra da Suzano, que inicialmente sairia por R$ 2,7 bilhões, foi fechada por R$ 2,6 bilhões. Unipar entrou com a contrapartida de R$ 380 milhões para se manter majoritária no Sudeste e Braskem aceitou a troca de ativos proposta.