Título: 'O PT está acanhado, envergonhado, tímido'
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2007, Nacional, p. A

Entrevistas Jilmar Tatto: deputado federal por São Paulo Para Tatto, partido precisa ajudar Lula a governar e ter consciência crítica para forçar o governo em direção ao social

Afilhado político da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, o deputado Jilmar Tatto (SP) avalia que o PT está ¿acanhado, envergonhado e tímido¿ na relação com o Planalto. Para ele, cabe ao partido forçar o governo em direção à área social.

Qual deve ser a prioridade da nova direção do PT?

Do ponto de vista externo, organizar e articular para o PT ganhar a eleição de 2008. Segundo, o PT deve ter uma relação privilegiada com movimentos sociais. E, já que a gestão vai até 2009, preparar o partido para a disputa de 2010.

O sr. defende a candidatura própria em 2010. Como viabilizá-la?

Temos que construir as bases de uma candidatura forte, partindo de um diagnóstico evidente de que igual ao Lula é difícil encontrar neste momento. A candidatura tem de sintetizar as conquistas de Lula, ter apoio do presidente e apresentar à sociedade um aprofundamento do que ela precisa.

Falta uma postura mais crítica do PT em relação ao governo?

Falta um posicionamento político do partido, como instituição, em relação ao governo e à base. O PT, por seu tamanho, sua importância, está acanhado, envergonhado, tímido. Acaba não ajudando Lula a governar o País. É um governo de centro-esquerda, com siglas de centro e de esquerda. O PT tem de ter consciência crítica para forçar o governo, no bom sentido, em direção ao social.

Esse quadro abre a brecha para o apoio do presidente a um candidato fora do PT em 2010?

O que leva o presidente a dizer isso é ele ter a responsabilidade de manter a governabilidade e a unidade dos partidos da base. Se ele já der declarações defendendo um candidato do PT, ele põe em risco a unidade do governo. Mas uma coisa é o presidente se comportar e até pensar como tal. Outra é o PT. Somos o partido com mais filiados, que teve mais votos para deputado federal, o partido do presidente. Não podemos nos furtar de apresentar uma candidatura. Na mudança do País, o PT deve ser o carro-chefe.

O sr. é cotado para a prefeitura. A presidência do PT ajuda nisso?

Eu, como presidente do PT, não vou disputar nenhum cargo no ano que vem. Até porque acredito que a melhor candidata é a Marta Suplicy. Não está no meu horizonte próximo.

E mais para frente, ajuda?

A própria campanha - eu tenho passado por vários Estados esses dias - tem ajudado a conhecer o Brasil e a conhecer o PT. É evidente que a presidência dá projeção. Mas isso não se reverte necessariamente na população. Isso não me preocupa. O que farei depois tem que ser uma produção coletiva.