Título: 'Temos que trazer de volta o debate livre'
Autor: Oliveira, Clarisa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2007, Nacional, p. A17

Entrevista José Eduardo Martins Cardozo: deputado federal por São Paulo Deputado acha que PT está vivendo uma ¿crise autoritária¿, em que quem diverge da direção é tratado ¿como inimigo¿

Defensor do resgate da ética no PT, o deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP) prega a democratização da direção partidária. Além disso, ele insiste que falta transparência do partido na gestão de recursos financeiros.

Qual deve ser a prioridade da nova direção do PT?

A nova direção terá que modificar a democracia interna. No PT, um pequeno grupo de pessoas decide o que todo o partido vai fazer. Há uma crise autoritária, que trata quem diverge da direção como inimigo. Além disso, falta transparência na gestão financeira. Temos que saber de onde vem o dinheiro e para onde vai.

Não melhorou desde o mensalão?

Não há transparência. Defendemos, por exemplo, o orçamento participativo nos municípios. E temos que trazer de volta o debate e a discussão livre dentro do PT.

Como o debate sobre a ética?

O PT foi construído em torno de um patrimônio ético. Quem defende ética na política em relação a adversários tem de defender internamente. A direção tem que reagir a acusações, apurar, punir ou absolver. Não pode haver inércia.

Como o sr. avalia a relação entre partido e governo?

É preciso que haja uma clara distinção entre partido e governo. Achamos que tem havido uma confusão profunda em relação a isso. Vemos, muitas vezes, dirigentes do partido como porta-vozes do governo.

O partido é submisso ao governo?

Não é que seja submisso. Tem um papel diferente. Ao partido cabe propor políticas. E, quando não concordamos, fazer críticas, numa direção construtiva. O partido deve apoiar o governo, mas isso não significa confusão de papéis. O governo não pode instrumentalizar o partido e o partido não pode instrumentalizar o governo.

Como o sr. vê a tese de o PT não ter candidato próprio em 2010?

Seria absurdo o PT, com a dimensão de partido que tem a Presidência da República e vários governos estaduais importantes, abrir mão da candidatura própria. Seria um equívoco brutal. Agora, a candidatura tem que ser construída sem arrogância, num diálogo franco com os partidos aliados.

O sr. é cotado para a prefeitura. Como fica a disputa para a presidência do PT nesse plano político?

Hoje, estou concentrado na candidatura para presidente do PT. Se eventualmente ganhar, fica fora de cogitação deixar o cargo para concorrer. No caso de não ser eleito, obviamente o quadro terá de ser pensado pelo conjunto de pessoas dispostas a apoiar esta pré-candidatura.