Título: 'Campanha da Fiesp contra CPMF é um tiro no pé'
Autor: Oliveira, Ribamar; Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2007, Economia, p. B1

Mantega põe em dúvida representatividade de Skaf e o acusa de só se interessar por desoneração tributária

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) deu um ¿tiro no pé¿ ao liderar a campanha contra a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), disse ao Estado o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ameaçado de ficar sem o tributo e com um rombo de R$ 40 bilhões em suas contas no ano que vem, o governo federal decidiu não anunciar a nova política industrial, que traria cortes significativos de impostos.

Mantega pôs em dúvida a representatividade do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, perante a indústria paulista. Além disso, o acusou de ser contrário às políticas sociais do governo e só se interessar por desonerações tributárias. Procurado, Skaf preferiu não se manifestar.

Além da Fiesp, Mantega viu na ¿ala radical¿ da oposição, liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a causa do fracasso das negociações entre o governo e a oposição para prorrogar a cobrança do tributo.

Mesmo se declarando confiante quanto à prorrogação do tributo, o ministro já tem esboçado um programa de ajuste caso a CPMF não possa ser cobrada em 2008. O ministro acha que o cenário internacional está perigoso demais para pôr em risco a imagem de solidez do País. Por isso, a possibilidade de reduzir o superávit primário (economia para pagamento de juros) foi considerada ¿muito ruim¿.

A opção é, em primeiro lugar, promover um ¿encolhimento¿ no Orçamento do ano que vem, inclusive no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Adicionalmente, serão aumentados tributos cuja alteração não depende de aprovação do Congresso: Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Importação (II) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

A crise provocada pelo mercado de hipotecas subprime nos Estados Unidos, disse Mantega, tende a ser a pior dos últimos 15 anos. Mas o Brasil está resguardado pela solidez das contas públicas e das reservas internacionais, pelo mercado interno forte e por um fato que, na avaliação do ministro, transformará a economia brasileira nos próximos anos: a descoberta do megacampo petrolífero Tupi.

Mantega anunciou ainda que determinou à Secretaria do Tesouro Nacional que avalie a possibilidade de liberar a Petrobrás de ajudar o setor público a cumprir a meta de superávit primário. Ele admite que a estatal ficaria ¿mais livre¿ para investir.

O fundo soberano em estudos no governo, esclareceu o ministro, não vai investir diretamente em empresas nem comprar ações. A idéia é que os recursos sejam usados unicamente para comprar títulos e debêntures de empresas nacionais emitidos no exterior.

O objetivo é reforçar a ação do Banco Central para conter a desvalorização do dólar em relação ao real e apoiar a expansão de empresas brasileiras no exterior.