Título: Indústria investe mais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2007, Notas e Informações, p. A3

Nem os sinais de desaceleração da economia americana, nem o dólar barato que desestimula as exportações, nem os juros altos que tornam quase proibitivos os financiamentos assustam a indústria brasileira. Seus investimentos estão crescendo e muitas empresas estão dispostas a investir ainda mais no próximo ano. Das indústrias que vão investir, a maior parte pretende ampliar a produção. Outras investem para melhorar a qualidade de seus produtos ou produzir novas linhas de bens. Mais de 70% das empresas projetam aumento de seu faturamento e quase a metade delas contratará mão-de-obra no ano que vem. Essa a conclusão de duas pesquisas anunciadas há pouco: a indústria brasileira projeta um 2008 melhor do que 2007.

A Sondagem Especial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que ouviu 1.655 empresas, constatou que 42% delas pretendem aumentar seus investimentos em 2008, 45% manterão inalterados seus níveis de investimentos e apenas 13% planejam investir menos no próximo ano.

Utilizando outra metodologia e outro grupo de empresas, a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) também constatou, embora com números diferentes, a disposição da maioria das indústrias de investir mais no próximo ano. Das 659 empresas consultadas, que empregam 861 mil trabalhadores e no ano passado faturaram R$ 390 bilhões, 53% programaram, para 2008, investimentos maiores do que neste ano. É um índice bastante superior ao detectado na pesquisa feita no ano passado, quando 38% das empresas disseram que iam aumentar seus investimentos. No ano passado, as empresas que pretendiam diminuir os investimentos correspondiam a 13% do total; neste ano, elas representam 9%.

Nas duas pesquisas, o cenário é bastante semelhante ao observado em 2004, quando a economia brasileira cresceu 5,7%. Naquele ano, a indústria de transformação teve um desempenho notável: sua produção física aumentou 8,5%.

Embora não iniba os investimentos, a desvalorização do dólar está forçando as empresas a mudar suas políticas: elas estão cada vez menos interessadas em aumentar as exportações e cada vez mais voltadas para o mercado doméstico. Essa mudança, que se observava desde 2004, ficou nítida na pesquisa da CNI. Dos investimentos programados para 2008, apenas 5% são voltados prioritariamente para o mercado externo. É menos da metade do índice observado há três anos, de 11%. O mercado interno é o grande alvo da indústria: 73% investem para vender mais dentro do País.

Mas a falta de crédito retarda o crescimento dos investimentos. A pesquisa da CNI mostra, mais uma vez, a pouca relevância do sistema financeiro nos investimentos produtivos. A fatia mais expressiva dos investimentos da indústria é financiada com recursos próprios das empresas. Isso vale tanto para as pequenas como para as médias e grandes indústrias. Neste ano, 71% dos investimentos foram feitos com recursos próprios.

É um índice muito parecido com o detectado em 2001. Embora os juros básicos tenham diminuído muito nos últimos seis anos, os financiamentos continuam caros e não há muitas linhas de crédito para o investimento produtivo. ¿No Brasil, é mais fácil ter financiamento para comprar bens de consumo do que para adquirir máquinas e equipamentos¿, diz o economista da CNI Flávio Castelo Branco, um dos responsáveis pela pesquisa.

É importante, porém, ressaltar que a fartura de crédito para a aquisição de bens de consumo é um dos principais fatores do aumento das vendas do comércio varejista (outros são o aumento da renda real média e a estabilidade dos preços), que espera ter o melhor Natal em dez anos.

Outros dados - como os da produção e importação de bens de capital e da produção de insumos para a indústria da construção civil - reforçam as conclusões das pesquisas da CNI e da FGV e justificam a projeção feita pela consultoria Tendências, de que, em 2007, a taxa de investimentos da economia brasileira será 11,3% maior do que a de 2006. Com base nos dados já conhecidos, a consultoria projeta aumento de 8,4% em 2008.