Título: Parceria de ONG com governos forma jovens mais conscientes
Autor: Iwasso , Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2007, Vida &, p. A18

Alunos que participam do SuperAção lêem mais, são mais politizados e valorizam a educação

O jovem não é o problema, mas a solução. A partir dessa premissa, que desencadeia conceitos como autonomia, protagonismo, preparação para o trabalho e para a aprendizagem, o projeto SuperAção, do Instituto Ayrton Senna, conseguiu formar adolescentes que lêem mais do que a média, defendem a participação na comunidade, a preocupação com o que acontece na política e a importância de uma boa formação, entre outros valores, normalmente vistos como abandonados pela atual geração.

A mudança de perfil, já sentida pelas escolas participantes, aparece numa pesquisa realizada pelo Ibope e pela Unicef, comparando os jovens que saíram do programa com uma amostragem dos adolescentes de 15 a 19 anos do País.

Diante de uma série de perguntas sobre atualidades, aprendizagem, vida escolar, juventude e perspectivas para o futuro, 44% dos adolescentes em geral não souberam dar uma opinião. Entre os jovens do programa, apenas 7% se abstiveram. Quando questionados sobre eleições, 16% dos jovens em geral afirmaram que estudariam o candidato antes de votar, ante 53% dos estudantes do projeto. Além disso, a maior parte dos que passam pelo SuperAção (66%) valoriza o professor, enquanto a minoria (26%) do outro grupo respondeu a mesma coisa.

¿Precisamos definir o que queremos para essa juventude e começar a agir, não apenas ficar reclamando que adolescentes não se interessam pela escola. A escola hoje não sabe lidar com o jovem, tenta tratar o adolescente da mesma maneira que trata a criança, enxergando ele como um problema¿, afirma Simone André, coordenadora da área de juventude do instituto. ¿O programa propõe a participação dele, para fazer projetos do interesse dele, ser autônomo e saber fazer escolhas.¿

Desde 2001, quando foi criado para atuar em parceria com secretarias municipais e estaduais de Educação, o programa já atingiu 1 milhão de jovens. Hoje, está em 581 cidades de quatro Estados: São Paulo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal. Neste ano, foram 200 mil alunos.

Antes de entrar na rede, o instituto faz uma parceira com as secretarias: não cobra remuneração e fornece o material didático, mas exige que os gestores se comprometam a seguir o método de trabalho proposto.

Diretores e professores passam por uma formação, na qual aprendem a enxergar seus alunos de outra maneira, seguindo um material pedagógico oferecido pelo instituto. Lá estão diretrizes conceituais e planos de aulas para serem aplicados. Simples e didáticos, para abordarem as idéia do programa em todas as disciplinas ou mesmo nos horários livres.

¿É uma pedagogia, que pode ser aplicada, desde que o professor siga o plano de aula¿, completa Simone. Ela diz que a maior resistência no primeiro contato é a falta de conhecimento de diretores e professores. ¿Eles simplesmente não sabem o que fazer. Quando você oferece a pedagogia, eles aceitam.¿

ENGAJAMENTO

Na manhã de ontem, um domingo ensolarado em São Paulo, várias salas do Colégio Objetivo no Paraíso, local escolhido para celebrar o término do projeto neste ano, estavam repletas de alunos conversando e sentados em grupos. Estavam lá porque os projetos que desenvolveram foram escolhidos como melhores da região. Discutiam os grandes vilões da leitura. Preguiça, televisão e falta de vontade apareciam entre as respostas. Mas a mais comum eram bibliotecas fechadas.

O que fazer? Dentro da maneira como aprenderam a agir, fazer um projeto para abrir e melhorar o espaço. ¿Minha escola mudou demais depois que começamos¿, conta Bruno Afonso Pavani, de 17 anos.

Aluno da Escola Estadual João Gomieri Sobrinho, na cidade de Palmares Paulista, ele participa há quatro anos do SuperAção. ¿O que mais mudou foi o horário noturno. Depois dos projetos, a escola mudou os horários e, na segunda aula, distribui livros e deixa os alunos terem tempo para ler¿, diz.

Na cidade, de cerca de 10 mil habitantes, a maior parte dos alunos trabalha no corte da cana-de-açúcar ou na coleta de laranjas. ¿Não têm tempo para nada. Agora tudo está mudando¿. Ele comemora o fato de ter prestado vestibular neste ano e já garantido uma vaga em Ciências Biológicas para o ano que vem.

DE OLHO NO FUTURO

A perspectiva de futuro também aparece na pergunta: a maioria dos alunos do projeto acredita que trabalhará no que gosta, devido ao esforço pessoal, enquanto alunos em geral dizem que, para isso, devem esperar uma oportunidade.

¿No começo você se assusta, não temos essa cultura ainda. Os professores temem que vire bagunça, mas depois que conhecem, se interessam, a escola muda¿, conta Silvana Cruz Bernardo, vice-diretora da Escola Estadual Barão do Rio Branco, em Catanduva. ¿Mesmo sendo professora há muito tempo, aprendi muito. Principalmente que os jovens têm uma bagagem própria que a gente não pode ignorar.¿

PERFIL

32% dos jovens do programa lêem livros escolhidos por eles mesmos como atividade de lazer, ante

4% dos outros alunos

61% usam internet para fazer pesquisa, ante 24% dos outros jovens

23% acham que governo deve investir mais na educação para diminuir a desigualdade social, ante

5% dos outros jovens

95% atuam em ONGs ou em outro tipo de atividade na comunidade onde vivem; entre jovens em geral, a média é de 16%