Título: Planalto faz contas e decide investir em tucanos e PR para salvar CPMF
Autor: Samarco,Christiane Nossa, Leonencio; Lopes,Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2007, Nacional, p. A6

Faltando apenas três dias para a votação, governo conclui que não tem votos necessários para prorrogar tributo

A três dias da votação no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros que participaram ontem da reunião da coordenação política, no Planalto, concluíram que não têm os votos necessários para garantir a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011, uma arrecadação anual de pelo menos R$ 40 bilhões. Da reunião saíram duas decisões: convocar a bancada do PR para uma conversa com o ministro Alfredo Nascimento (Transportes), que é do partido, e insistir na tentativa de conquistar ¿um ou dois votos¿ tucanos.

A reunião da bancada do PR, no Ministério dos Transportes, foi realizada no fim da tarde de ontem e contou com a participação do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB). O próprio presidente Lula cuidou do cerco aos tucanos, telefonando para o governador de Minas, Aécio Neves.

Mas até agora a investida sobre o PR rendeu apenas queixas de César Borges (BA) e Expedito Júnior (RO), deixando o Planalto sem a garantia de seus votos. Nessa conta, o governo tem hoje, no máximo, 48 votos e a oposição 33 - 13 do PSDB, 14 do DEM, três do PMDB (Jarbas Vasconcelos, Mão Santa e Geraldo Mesquita), 1 do PTB (Romeu Tuma) e 2 do PR (Borges e Expedito). Para aprovar uma emenda constitucional são necessários 49 votos.

Borges e Expedito são os principais alvos do governo no PR. Borges tem acordo com o DEM, que ele trocou no mês passado pelo PR. Pelo acordo, ele votaria contra a CPMF, mesmo estando na base aliada, e o DEM não contestaria na Justiça Eleitoral a troca de partido. O Planalto ofereceu a um filho do senador um cargo na Docas da Bahia. ¿Mudei de partido, mas não mudei de opinião (sobre a CPMF)¿, tem dito Borges. Ontem, ele reclamou do tratamento que vem recebendo do PT na Bahia.

Expedito disse ontem a interlocutores da oposição que continua contra a CPMF e sua posição ¿está firme como uma rocha¿. E reclamou que em cinco anos nunca teve pedidos para Rondônia atendidos.

Além de Lula e de José Múcio, os ministros José Gomes Temporão, da Saúde, e Guido Mantega, da Fazenda, estão ligando para senadores e governadores. Mantega ocupa-se, preferencialmente, dos senadores que já foram governadores - como Marconi Perillo, tucano que governou Goiás entre 1999 e 2006.

O de São Paulo, José Serra (PSDB), não pede explicitamente o voto da bancada, mas liga para os senadores repetindo o ponto de vista de que ¿não faz sentido político¿ o PSDB ser contra a CPMF, depois de ter criado a contribuição no governo Fernando Henrique. Argumenta ainda que os tucanos têm de se diferenciar dos demais partidos ¿pela responsabilidade pública¿. Votar contra a CPMF, na visão dele, pode comprometer o ajuste fiscal.¿Nenhuma força política, dentro ou fora do partido, vai quebrar a unidade da bancada¿, disse ao Estado o presidente tucano, senador Sérgio Guerra (PE).

Ontem, ao final da reunião da coordenação política, Múcio fez um balanço enigmático sobre a votação: ¿A margem é pequena de um lado e de outro. Hoje, seria uma vitória para ambos os lados.¿ O ministro admitiu que o governo concentra suas conversas em 5 dos 53 senadores aliados: Expedito, Borges, Pedro Simon (PMDB-RS), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), e Romeu Tuma (PTB-SP). Lula deve se encontrar com Simon hoje ou amanhã para discutir o problema financeiro do Rio Grande do Sul.

VIAGEM

Múcio disse ontem que chegou a pedir a Lula que cancelasse as viagens nos próximos dias, para intensificar as negociações em torno da CPMF. O presidente, segundo o ministro, respondeu que não era possível cancelar os compromissos acertados com antecedência.

Lula viaja na quinta e na sexta-feira para o Pará e o Amapá e, na semana seguinte, para a Argentina, Bolívia e Venezuela. ¿Falta pouco tempo para a votação, mas é tanta coisa para conversar que os dias vão ser muito longos¿, disse o ministro.