Título: Lula tem ganho com vitória do 'não'
Autor: Nossa, Leonencio; Monteiro, Tania
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2007, Internacional, p. A16

Assessores do presidente brasileiro avaliam que resultado enfraquece liderança de Chávez na América Latina

, Eduardo Kattah e Denise Chrispim Marin

Horas depois do resultado do referendo na Venezuela, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que a decisão dos eleitores de rejeitar a reforma constitucional proposta pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, tem de ser acatada. ¿A vontade da maioria deve ser respeitada, o Chávez já reconheceu isso¿, afirmou Lula a ministros. No mês passado, Lula, diante da escalada autoritária de Chávez instrumentalizada pela proposta de reforma da Carta venezuelana, disse que ninguém podia reclamar da falta de democracia na Venezuela.

O comentário do presidente brasileiro em relação ao resultado do referendo de domingo foi interpretado como ¿dúbio¿ pelos assessores do Palácio do Planalto. A frase, segundo eles, mostra que Lula está agora mais tranqüilo pelo enfraquecimento de Chávez nas relações entre os líderes políticos do continente e, ao mesmo tempo, o governo brasileiro pode manter o mesmo discurso em questões envolvendo o presidente do país vizinho.

Na avaliação quase unânime de ministros que trabalham no palácio, Chávez agora não poderá ultrapassar o sinal em questões importantes. Eles lembram que o presidente da Venezuela interferiu de forma indelicada, por exemplo, na crise do gás entre Brasil e Bolívia, e em discussões do governo Lula com líderes de outros países no âmbito do Mercosul. Lula inicia no domingo uma série de viagens a países vizinhos, como Argentina, Bolívia e a própria Venezuela.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, elogiou a maneira com a qual Chávez acatou ao resultado do referendo. Segundo ele, o venezuelano reagiu ao resultado ¿de uma maneira muito elegante e tranqüila¿. ¿Acho que isso foi bom para a democracia¿, afirmou Amorim. Em Belo Horizonte, o vice-presidente da República, José Alencar, também qualificou como uma ¿vitória da democracia¿ a rejeição popular à reforma proposta por Chávez. ¿Sempre achei que a alternância de poder é um dos baluartes da democracia¿, disse.

O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), afirmou que a democracia venezuelana saiu ¿fortalecida¿ do referendo.

GOVERNO BUSH

O governo dos Estados Unidos classificou de ¿bom presságio¿ a derrota da proposta de Chávez. ¿É como se o povo tivesse dito o que pensava e votado contra as reformas recomendadas por Hugo Chávez e penso que isso é um bom presságio¿, afirmou Dana Perino, porta-voz da Casa Branca.