Título: Vitória no plenário foi maior do que da 1ª vez
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2007, Nacional, p. A4

Entre votos a seu favor e abstenções, Renan teve apoio de 51 colegas

Quatro horas e meia depois de renunciar ao cargo de presidente do Senado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) escapou pela segunda vez da cassação. Foram 48 votos pela manutenção de seu mandato, 29 pela perda dos direitos políticos e 3 abstenções - o que significa 51 senadores a seu favor. Confiante, Renan até abriu mão do próprio voto. Os números superaram o resultado que ele obteve no primeiro julgamento, em setembro, sobre o caso Mônica Velloso, quando ele contou no plenário com 46 parlamentares a seu favor - os 40 votos pela absolvição, mais 6 abstenções (35 votaram pela perda do mandato).

Enquete: O caso Renan teve o desfecho merecido?

Ontem, Renan respondeu à acusação de que se utilizou de laranjas para comprar duas rádios e um jornal em sociedade oculta com o usineiro João Lyra. Em quase uma hora de discurso na sessão de julgamento, o senador insistiu em que as acusações eram improcedentes e frutos de disputa ¿paroquial¿ com o usineiro João Lyra. ¿A pena que se propõe é de morte política e cívica¿, afirmou, ao ressaltar que se fosse cassado perderia os direitos políticos por 15 anos, até 2022. Em quase todo seu pronunciamento de defesa, Renan procurou desqualificar o parecer do relator, Jefferson Péres (PDT-AM). Emocionado, disse que a perda do mandato significaria ¿perder o próprio sentido da vida¿. Acabou a fala e, exatos três minutos depois, vibrava com a absolvição.

A sessão que definiu ontem o futuro político de Renan foi aberta, mas a votação, secreta, cercada por um clima de prévia absolvição e pelas discussões em torno de quem será seu sucessor no comando da Casa. ¿Isso aqui não parece sessão de julgamento. Está todo mundo falando de tudo, menos apresentando a acusação e a defesa¿, protestou o senador Pedro Simon (PMDB-RS). De fato, foi o que ocorreu.

RENÚNCIA ANUNCIADA

Renan renunciou ao cargo exatos 20 minutos depois do início da sessão e não causou surpresa entre seus colegas senadores nem espanto nas galerias, lotadas por funcionários do Senado e jornalistas.

A renúncia anunciada se concretizou num texto de apenas 24 linhas lido pelo próprio Renan em apenas dois minutos. Acompanhado pela mulher , Verônica, Renan abriu seu pronunciamento agradecendo aos colegas que, ¿com sua amizade, apoio e, sobretudo, sua confiança¿, o distinguiram para ocupar, ¿por mais de três anos¿, a presidência do Senado.

¿Compreendo que presidir esta casa é resultado das circunstâncias políticas. Entendo, também, que quando tais circunstâncias perdem densidade, ameaçando o bom desempenho das atividades legislativas, é aconselhável deixar o cargo¿, afirmou. ¿Renuncio ao mandato de presidente do Senado sem mágoas ou ressentimentos, de cabeça erguida, demonstrando, mais uma vez, que não usei prerrogativas do cargo para me defender.¿

Dali em diante, a maior parte da sessão, que durou 5 horas e 20 minutos, serviu mais para discutir sobre a sucessão no Senado do que sobre o julgamento de Renan.

Ao longo da sessão, vários senadores se manifestaram. Alguns pregaram a ¿redenção ética da Casa¿, como fez Gerson Camata (PMDB-ES), e defenderam a necessidade de o Senado não repetir o ¿suicídio¿ de 12 setembro, como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) se referiu à primeira absolvição de Renan. Na ocasião, o peemedebista foi absolvido da acusação de ter se utilizado de um lobista, Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior, para pagar suas despesas pessoais, entre elas a pensão alimentícia da jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha fora do casamento.

Apesar de o presidente interino Tião Viana (PT-AC) ter avisado, logo no começo da sessão, que não seria permitido aos senadores revelar seus votos, alguns se arriscaram fazê-lo. Em favor de Renan, os mais enfáticos foram Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Almeida Lima (PMDB-SE). ¿Vou votar pela absolvição porque não vi nenhuma prova¿, avisou Cafeteira.

Francisco Dornelles (PP-RJ), que no primeiro julgamento foi um dos principais defensores de Renan, ontem repetiu o script. Disse que não havia provas contra Renan e que o relatório (pela cassação) foi feito por um adversário político, Jefferson Péres.

FRASES DE RENAN

¿Renúncia não existe no meu dicionário. Sou um homem de luta, forjado na luta. Quem fala em renúncia não me conhece. Estou tranqüilo e estou pronto para qualquer coisa, inclusive para enfrentar o processo no plenário. Não arredarei pé¿ Em 20/6, após sessão solene no Senado

¿Vou falar com mais ênfase ainda. Isso não faz parte da minha personalidade¿ Em 22/6, sondado sobre licença ou renúncia

¿As pessoas pensaram que estavam diante de um fato consumado e de uma pessoa vulnerável, um novo Severino, mas erraram completamente. Em nome da minha dignidade vou resistir até a última hora¿ Em 25/7, em entrevista em Maceió

¿Não saio absolutamente. Fui eleito para cumprir um mandato de dois anos e só a decisão do plenário encurtará esse mandato. Fora disso não há hipótese¿ Em 6/9, indagado se renunciaria

¿Qualquer coisa que diga respeito a licença ou renúncia não faz parte da minha personalidade¿ Em 11/9, na véspera do julgamento em plenário

¿Deus não me deu o dom da desistência. Não pensei e não penso em afastamento, e não pretendo tirar férias. Não estou cansado, não¿ Em 13/9, comemorando a absolvição em plenário