Título: 'Me sinto de alma lavada', diz ele após absolvição
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2007, Nacional, p. A5

Senador volta a jurar inocência no caso dos laranjas e ataca adversários

¿Me sinto de alma lavada¿, comemorou o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), logo após a decisão do plenário do Senado, que manteve ontem o seu mandato. ¿Não votei porque tinha certeza de que não haveria injustiça¿, afirmou. Indagado sobre o que iria fazer, respondeu: ¿Agora eu sou paz e amor.¿

Mais cedo, depois da renúncia à presidência do Senado e dizendo-se ¿muito mais leve¿, Renan voltou a jurar inocência e afirmou que todo o processo contra ele não passou de um jogo político de interessados em ocupar o comando do Senado. Em entrevista durante a sessão de seu julgamento por falta de decoro parlamentar, Renan considerou ainda ¿um equívoco, para não dizer indigno¿, o parecer do senador Jefferson Péres (PDT-AM), que recomendou a cassação de seu mandato.

¿As acusações são uma coisa absolutamente improcedente¿, disse o ex-presidente do Senado. ¿Ficou claro que tudo não passou de um jogo político. Tanto é assim que mal acabei de ler minha renúncia e o plenário começou a discutir a sucessão na presidência do Senado.¿ Ontem, foi a segunda vez, em 84 dias, que Renan foi julgado no plenário da casa, desta vez pela acusação de comprar, em nome de laranjas, duas emissoras de rádio e um jornal diário, em Alagoas, em sociedade com o usineiro João Lyra.

Renan manteve o suspense sobre sua renúncia à presidência do Senado até o último minuto. Quando entrou no plenário, não quis responder às perguntas dos jornalistas sobre sua saída do cargo. ¿Vocês querem isso de mim?¿, retrucou o parlamentar, ao chegar para a sessão, às 15h28.

Assim como no primeiro julgamento, no dia 12 de setembro, Verônica Calheiros, mulher de Renan, assistiu a toda sessão da tribuna de honra. Verônica chegou à sessão às 15h15, mais de dez minutos antes de o marido entrar no plenário. Eles vieram em carros separados.

O deputado Renildo Calheiros (PC do B-AL), irmão de Renan, também assistiu ao julgamento. Já Aldo Rebelo (PC do B-AL), amigo do senador alagoano, passou rapidamente pelo Senado. Outros aliados de Renan foram ao plenário para cumprimentá-lo, como o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que está de perna quebrada, em uma cadeira de rodas.

SORRISO

Nas mais de cinco horas de julgamento, o ex-presidente do Senado passou a maior parte do tempo sentado em sua cadeira, do lado esquerdo do plenário, com um sorriso nos lábios. Aparentava prestar atenção nos discursos. Levantou duas vezes para ir ao banheiro e quatro para dar entrevistas.

Conversou com o senador Euclides Mello (PRB-AL), suplente de Fernando Collor (PTB-AL), que está licenciado do cargo, e recebeu uma caneta de presente de Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos mais fiéis aliados. As galerias do Senado não foram abertas ao público. Apenas servidores dos gabinetes e a imprensa foram autorizados a ficar nas galerias e no plenário.

FRASES

Renan Calheiros Ex-presidente do Senado (PMDB-AL)

¿(O parecer é) um equívoco, para não dizer indigno¿

¿As acusações são uma coisa absolutamente improcedente¿

¿Ficou claro que tudo não passou de um jogo político. Tanto é assim que mal acabei de ler minha renúncia e o plenário começou a discutir a sucessão na presidência do Senado¿