Título: Mendonça de Barros ataca fundo soberano
Autor: Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2007, Economia, p. B3

Ex-ministro diz que opção aumenta a dívida pública

O ex-ministro das Comunicações Luis Carlos Mendonça de Barros afirmou que a criação do fundo soberano pelo governo é uma idéia inadequada na atualidade, pois seu desenho original pode gerar como efeito colateral a ampliação da dívida pública líquida - que está em 43,7% do PIB -, por causa da necessidade de esterilização dos dólares que ingressam no País. ¿Talvez fosse mais relevante adotar medidas que permitissem o livre fluxo de recursos do Brasil para o exterior e do exterior para o Brasil, o que poderia conter movimentos de excessiva valorização do câmbio, especialmente motivada por questões conjunturais¿, afirmou.

Mendonça de Barros avaliou que o governo deveria eliminar a obrigatoriedade dos ingressos de receitas externas obtidas por empresas no exterior, pois as companhias não têm plena liberdade para realizar operações comerciais com esses recursos, como o pagamento de fornecedores estrangeiros. ¿A companhia que exporta precisa trazer os dólares obtidos lá fora para o Brasil para depois realizar outras operações, como compra de equipamentos fabricados em outros países, o que aumenta seus custos financeiros. Imagine o quanto isso eleva as despesas para uma empresa como a Embraer, que importa muitos componentes no exterior¿, comentou.

O ex-ministro ressaltou que o fundo soberano também não serve como a melhor opção de funding para o BNDES, que precisaria de pelo menos R$ 30 bilhões para completar as estimativas orçamentárias ao redor de R$ 80 bilhões para 2008. ¿O BNDES poderia captar diretamente recursos no exterior via emissões, o que já faz hoje¿, comentou. ¿Além disso, o problema fiscal que seria provocado por esse fundo seria ainda pior, pois a instituição repassa os créditos a empresas por juros bem menores do que os registrados pelo mercado¿, comentou. O banco oficial concede financiamentos com base na Taxa de Juros de Longo Prazo, a TJLP, que está em 6,25% ao ano, marca inferior aos 11,25% registrados pela Selic.

CÂMBIO

Para Mendonça de Barros, o câmbio tem problemas, pois seu nível de sobrevalorização pode provocar dificuldades graves à sobrevivência de alguns segmentos produtivos. Contudo, ao fazer um balanço dos fatores estruturais e conjunturais que provocam a apreciação do real ante o dólar, entre eles, o superávit comercial e o forte ingresso de divisas por meio de investimentos diretos estrangeiros e pelo mercado de capitais, ele ponderou que a tendência é de a moeda brasileira ficar estável num patamar ao redor de R$ 1,80 de agora até o final de 2008. ¿Além disso, o País deve receber o investment grade no próximo ano, o que pode manter o alto nível do ingresso de dólares no Brasil nos próximos trimestres¿, afirmou.

O ex-ministro avaliou que os juros reais, que estão ao redor de 7% ao ano, estão dois pontos porcentuais acima do adequado, mas o processo de redução da taxa não pode ser rápido. Na sua avaliação, o Banco Central está certo ao temer um grande aquecimento do nível de atividade da economia, que pode ser deflagrado com rapidez por alguns fatores, como o intenso ciclo de expansão da concessão de crédito na economia. ¿O crédito está muito forte e é preciso ter cautela, porque a demanda pode provocar pressões fortes sobre a inflação, o que não é nada desejável¿, comentou.

Mendonça de Barros dirige hoje a Quest Investimentos, uma empresa gestora de investimentos que administra R$ 3,2 bilhões. A instituição prevê um cenário de estabilidade para o IPCA até o fim do próximo ano, que deve atingir 3,9% em 2007 e repetir a marca em 2008.

O economista-chefe da empresa, Paulo Pereira Miguel, avalia que o crescimento do PIB deve ficar mais próximo de 5% este ano. Para 2008, a estimativa é de 4,5%. O ex-ministro ressalta que esse é o principal cenário da companhia, pois avalia que a economia mundial pode registrar um movimento de expansão razoável em 2008, dado que não acredita numa desaceleração brusca do nível de atividade americano.

O ex-ministro destacou que o mercado financeiro internacional registra incertezas que devem perdurar até o começo de 2008 - a divulgação de balanços de grandes bancos dos EUA vai expor quanto as instituições foram prejudicadas pela crise do segmento de hipotecas subprime. ¿Há temores de que no médio prazo possa ocorrer uma piora da concessão de crédito por parte do setor financeiro, o que pode afetar a economia no geral. Há esse risco, mas as perspectivas gerais para a economia mundial no próximo ano são positivas¿, disse.