Título: Planalto faz contas, teme derrota e decide adiar votação da CPMF
Autor: Domingos, Joao; Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2007, Nacional, p. A4

Governo avalia que, até agora, só tem 47 votos entre os 81 senadores, quando precisa de no mínimo 49

Diante da constatação de que ainda não tem os votos suficientes para aprovar no Senado a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011, o Palácio do Planalto acionou ontem seus operadores políticos na Casa a fim de adiar a sessão de votação, que poderia ocorrer hoje, para a semana que vem. Nas contas dos governistas, há 47 votos a favor da prorrogação entre os 81 senadores - mas são necessários pelo menos 49.

Ministros envolvidos na negociação e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiram a governadores e senadores com os quais conversaram nos últimos dias que, se não conseguirem reverter a posição de alguns parlamentares de partidos aliados e conquistar pelo menos dois ou três votos na oposição, o governo será derrotado.

De acordo com o relato de um governador e de um senador, o Planalto mostra sinais de desespero. E, no cenário de rejeição da CPMF, vê ameaça à avaliação do País nas agências internacionais de risco e ao próprio índice do risco Brasil, que tem andado abaixo dos 250 pontos - ontem estava em 226. É com base nesses argumentos que o governo ainda busca reverter, até terça-feira, uma situação que parece perdida.

O apelo é dirigido aos aliados, mas chegou também ao PSDB e ao DEM. ¿O governo confia no civismo e na sensibilidade do PSDB¿, declarou o senador Jefferson Péres (AM), líder do PDT, que ontem conversou com Mantega e garantiu o voto do senador Osmar Dias (PR), que estava relutante.

¿O governo atendeu a tudo que o PDT pediu¿, disse Péres. ¿Haverá mais verba para a educação e um redutor de despesas de custeio, e a alíquota será reduzida ano a ano.¿

IMPREVISÍVEL

O líder do PDT acha que o País precisa do imposto e avalia que a eventual rejeição da CPMF terá efeitos imprevisíveis. ¿Fico pensando na manchete dos jornais do dia seguinte: `Governo perde e CPMF cai.¿ Olha o impacto disso, olha o estrago que será feito.¿

Nas conversas de Lula e dos ministros com senadores e governadores, foi feita uma avaliação de que houve erro grosseiro na condução das negociações sobre o imposto do cheque. O governo, enfim, concluiu que demorou demais para iniciar as conversações tanto com os aliados quanto com os partidos de oposição. Com base nesse panorama, pondera que isso pode ter sido fatal, porque o tempo foi diminuindo e deixou o governo encurralado.

¿Vamos votar na terça-feira¿, disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). ¿Ou votamos agora ou a CPMF cai por decurso de prazo. Não há mais tempo para nada.¿ A Constituição prevê que o imposto será cobrado até 31 de dezembro. Se não for confirmada a prorrogação pelo Senado, será extinto a partir do dia 1º de janeiro. Com isso, o governo Lula deixará de arrecadar cerca de R$ 40 bilhões por ano.

¿Ainda confiamos na aprovação da CPMF. Vamos continuar lutando¿, disse Jucá. Para o líder, o movimento contrário à prorrogação do imposto pode ser comparado a uma ¿marcha da insensatez¿.

SINAL DE FRAQUEZA

Os partidos de oposição, contrários à prorrogação do tributo, acham que o governo não tem votos suficientes para aprovar o projeto. Por isso, insistem em votar hoje a emenda constitucional. ¿Estão dando um claro sinal de fraqueza. Blefam. Querem é aproveitar o fim de semana¿, provocou ontem o líder do DEM, José Agripino Maia (RN).

Jucá garantiu, no entanto, que a falta de quórum deverá adiar a decisão para terça-feira. Significa que, sem a garantia dos votos, o governo deverá obstruir a sessão, de forma a ganhar o fim de semana, como previu Agripino.