Título: Lula apela a governadores e pede 'juízo' a senadores
Autor: Monteiro, Tania; Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2007, Nacional, p. A6

Presidente faz mea-culpa por já ter combatido CPMF e afirma que não tem vergonha de rever posições ou ser chamado de `metamorfose ambulante¿

Em uma clara mobilização pela aprovação da CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a cerimônia de lançamento do PAC da Saúde para fazer um apelo aos governadores, pedir ¿juízo¿ aos senadores e fazer um mea-culpa por já ter sido contra o imposto, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Admitiu, no Itamaraty, ao final de uma recepção oficial, que não tem plano alternativo para a votação da CPMF: ¿Quem tinha plano B era o Corinthians, e caiu para a segunda divisão. Só tenho plano A¿, afirmou.

Ouça o discurso do presidente

O presidente contou ter vindo a Brasília, no passado, para convencer petistas a votar contra a CPMF. Disse, ainda, que não se incomoda de ser chamado de ¿metamorfose ambulante¿ por ter mudado de opinião, referindo-se à música de Raul Seixas.

O discurso de ontem, no Palácio do Planalto, contrastou com os da semana passada, no Espírito Santo e no Rio, quando Lula adotara um tom agressivo, dizendo que só os sonegadores e o DEM eram contra a prorrogação da CPMF e alegando que seria uma ¿estupidez¿ não aprovar a emenda.

Respondendo às críticas dos que pedem redução da carga tributária, Lula afirmou que seu governo já promoveu desoneração de R$ 36 bilhões. Entre 2003 e 2007, a receita total da União, porém, passou de R$ 321 bilhões para R$ 618 bilhões. Nos quatro anos, esse crescimento correspondeu a 3,5% do PIB, cerca de R$ 70 bilhões de aumento real.

¿Não tenho vergonha e muito menos razão para não dizer que eu mudo de posição, por isso é que há muito tempo eu digo que prefiro ser considerado uma metamorfose ambulante, por estar mudando na medida em que as coisas mudam¿, disse o presidente, em discurso de improviso, ironizando o fato de não ter ¿a dureza do manifesto de um partido comunista ortodoxo, em que tudo está escrito¿.

De acordo com Lula, ¿a imprensa estava esperando um discurso violento¿ em defesa da prorrogação. ¿Mas, aos 62 anos, não tenho mais como ser violento. Sou agradecido a Deus de conseguir chegar até aqui. Não é hora de briga, mas de convencimento e de chamar as pessoas para meditar.¿

Para ele, os senadores ¿deveriam fazer uma reflexão junto com os governadores¿ para verem o que representa a não aprovação da CPMF em cada Estado. O presidente disse ainda duvidar que, ¿em sã consciência, algum senador acredite que o Brasil possa prescindir da CPMF¿.

SUS

Lula citou o Sistema Único de Saúde (SUS) para destacar a importância da prorrogação da CPMF. E fez uma comparação para mostrar que o SUS atende a todas as classes sociais. ¿Na mesma máquina que deita o presidente para fazer um exame, deita um companheiro pobre, exatamente por causa do SUS. Muitos daqueles que utilizam as máquinas mais sofisticadas e os hospitais mais sofisticados deste País, depois deduzem do Imposto de Renda o que eles pagaram do plano de saúde, que deu o direito a ele de utilizar essa máquina sofisticada.¿