Título: Cresce articulação para dar a Sarney direção do Senado
Autor: Lopes, Eugenia; Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2007, Nacional, p. A16

Ele diz que não quer o posto, mas só líder tucano se opõe abertamente

Apesar de o PMDB ter anunciado ontem oficialmente que tem quatro candidatos à a presidência do Senado - Garibaldi Alves (RN), Neuto De Conto (SC), Valter Pereira (MS) e Leomar Quintanilha (TO) -, um quinto nome corre por fora na sucessão de Renan Calheiros (AL). Trata-se do ex-presidente da República José Sarney (AP).

Ele diz a colegas que não almeja o posto, que já exerceu de 1995 a1997 e de 2003 a 2005. Mas, nos bastidores, cresce a articulação para que assuma o Senado no mandato tampão aberto com a renúncia de Renan.

A sucessão motivou até uma reunião no Planalto com o presidente Lula na noite de ontem, articulada pelo ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional). Deveriam estar presentes, além do ministro e de Sarney, o deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB.

A reunião discutiria três assuntos: a sucessão de Renan, o nome do PMDB para o Ministério de Minas e Energia - no lugar de Silas Rondeau, que deixou a pasta depois de acusações de corrupção -, e a definição de que Temer substitui Renan como intermediário da relação entre Planalto e PMDB. Na mesma proporção em que cresceu a articulação pró-Sarney para o comando do Senado, aumentou a adesão ao peemedebista.

Abertamente, apenas o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), faz restrições a Sarney. Mas a atitude já lhe causou constrangimentos. Na segunda-feira, Virgílio foi advertido pelo governador de Minas, o tucano Aécio Neves, que lhe disse que o cargo é do PMDB e não faz sentido trabalhar qualquer outro tipo de articulação. Ontem, Virgílio recebeu alfinetadas dos próprios colegas de partido. Álvaro Dias (PR), por exemplo, afirmou que não se opõe a Sarney e, antes de vetar seu nome, o líder ¿deveria reunir a bancada do partido¿. Tasso Jereissati (CE) também não fez nenhuma restrição ao nome do ex-presidente.

Na mesma linha, o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), disse ter constatado ontem, em rápida consulta à bancada, que o nome de Sarney ¿passa fácil¿. ¿Consultei cinco senadores do partido, e descobri que não tem resistência ao nome dele¿, contou.

Entre os quatro candidatos oficiais do PMDB, Garibaldi Alves desponta como favorito. Mas avisou que, se Sarney entrar na disputa, ele se retira.

O senador assegura, no entanto, que o ex-presidente não será candidato. ¿Não adianta os jornalistas insistirem, Sarney não quer. Ele pode até desejar o cargo mas não quer disputar¿, afirmou Garibaldi. Ao observar que um repórter anotava a frase, interveio: ¿Olhe lá. Não vá me deixar mal com o Sarney.¿

DATA

Na reunião de ontem, a bancada peemedebista decidiu deixar a definição final sobre o candidato para terça-feira. A escolha será feita em eleição, caso os quatro nomes continuem no páreo. Mas o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), disse esperar que até a noite de segunda-feira surja um nome de consenso. E avisou: ¿As inscrições não estão fechadas.¿

Raupp admitiu ainda que cresceu, sobretudo entre os petistas, a adesão ao nome de Sarney. Na base aliada, um dos principais defensores da escolha do ex-presidente é Aloizio Mercadante (PT-SP). ¿A sucessão do Senado passa pelo Sarney. Ele sempre teve papel decisivo na escolha de todos os presidentes da Casa nas últimas duas décadas¿, argumentou.

Ontem, Renan não foi à reunião da bancada do PMDB. Ele mandou avisar que não apoiará nenhum dos candidatos por ser grato ao apoio de todos no julgamento que o livrou da perda do mandato e dos direitos políticos por 15 anos