Título: Presidente do Conselho de Ética enterra 2 processos contra Renan
Autor: Lopes, Eugenia; Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2007, Nacional, p. A16

Oposicionistas protestam e vão pedir revisão do arquivamento; Casagrande promete recorrer à CCJ do Senado

Um dia depois de Renan Calheiros (PMDB-AL) renunciar à presidência do Senado e ser absolvido pelo plenário, o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), decidiu arquivar outras duas representações que tramitavam contra ele. O DEM e o PSDB reagiram, avisando que vão entrar com recurso no Conselho de Ética para pedir uma revisão dos arquivamentos.

¿O que Quintanilha fez foi uma arbitrariedade, um desrespeito com os partidos políticos¿, reclamou o senador Demostenes Torres (DEM-GO). ¿Quintanilha não pode violentar as regras e o regimento dessa maneira¿, completou. ¿Não concordamos com esse açodamento para arquivar os casos. Vamos pedir que isso seja revisto¿, disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Renato Casagrande (PSB-ES) também anunciou que vai recorrer da decisão à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. ¿Foi uma decisão monocrática do presidente, que desconsiderou os demais integrantes do conselho. Ele deveria ter mais respeito conosco¿, afirmou ele. O PSOL, autor de uma das representações contra Renan, também protestou contra o arquivamento com cartazes condenando o voto secreto que, na avaliação do partido, ¿facilita o corporativismo, o peculato e a maracutaia¿.

Os aliados de Renan acham natural o arquivamento dos processos. ¿Não há necessidade de levar a mesma pessoa três vezes a julgamento, senão isso vai ficar parecendo o Big Brother¿, disse o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), numa referência ao programa de TV que toda semana leva um dos participantes ao ¿paredão¿, para eliminá-lo da disputa.

Anteontem, Renan foi absolvido pela segunda vez pelo plenário. Ele era acusado de usar laranjas para comprar duas rádios e um jornal em Alagoas. Em 12 de setembro, foi absolvido da acusação de ter contas pessoais pagas por um lobista.

¿A Casa já mostrou o que pensa do mandato do senador Renan Calheiros. Está na hora de retomar a agenda positiva e votar a CPMF¿, cobrou Quintanilha. Aliado de primeira hora de Renan e candidato à sua sucessão, ele mandou arquivar a representação do PSOL que acusava Renan de participar de um esquema de arrecadação de recursos em ministérios dirigidos pelo PMDB. O relator, Almeida Lima (PMDB-SE), outro aliado de Renan, considerou a denúncia ¿inepta¿ e recomendou o engavetamento. ¿Tenho a prerrogativa de acatar, como presidente do conselho, o parecer do relator¿, explicou Quintanilha.

Do DEM e do PSDB, a outra representação acusa Renan de usar o ex-senador Francisco Escórcio para espionar senadores que defendiam sua cassação. Os alvos seriam Torres e Marconi Perillo (PSDB-GO). O processo nem teve relator designado, mas mesmo assim Quintanilha decidiu engavetá-lo. Ele considerou suficiente um depoimento que o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), tomou do empresário e ex-deputado Pedrinho Abraão, que negou ter havido uma reunião para definir estratégias para espionar os adversários de Renan.

EMPRESA FANTASMA

Há expectativa de que a Mesa possa arquivar a denúncia - publicada pelo Estado - de que uma emenda apresentada por Renan ao Orçamento repassou R$ 280 mil à empresa fantasma KSI Consultoria e Construções, de seu ex-assessor José Albino Gonçalves de Freitas, para construir 28 casas em Murici, cidade do clã dos Calheiros. O presidente em exercício do Senado, Tião Viana (PT-AC), disse ontem que o assunto será definido na próxima reunião da Mesa.

Internautas rejeitam desfecho da crise

Das 863 pessoas que participaram da enquete, 786 disseram que o desfecho não foi merecido. Já 77 apoiaram o resultado.

9% SIM 91% NÃO